A adaptação para cinema d'O Livro do Dessasossego, de Fernando Pessoa (Bernardo Soares), terá a sua estreia no dia 29 de Setembro, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, com a presença do cineasta.
Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real
domingo, 26 de setembro de 2010
João Botelho e o "desassossego" no cinema
João Botelho no Museu da Vila Velha - Vila Real, em 31-5-2010. ( foto: João Costa)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Luta Contra a Pobreza
INFORMAÇÃO REAPN NÚCLEO DISTRITAL DE VILA REAL
Na sequência da realização do projecto “Escolas contra a Pobreza”, a Escola Camilo Castelo Branco de Vila Real realizou um conjunto de vídeos no âmbito do Ano Europeu de Luta contra a Pobreza. Neste sentido, o Núcleo Distrital de Vila Real vem por este meio informar que os vídeos podem ser vistos a partir do link:
http://www.youtube.com/eapnportugal
ou indo à pagina da REAPN (www.reapn.org) clicando na imagem do ano europeu e indo ao fundo da página e clicar no símbolo do You tube.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
João Duns Escoto
À boleia da visita de Bento XVI ao Reino Unido, evoco, hoje, a figura de João Duns Escoto, eminente filósofo/sacerdote/professor da segunda metade do séc.XIII e início do séc.XIV, provavelmente nascido na fronteira da Escócia, na vila de Duns, personagem determinante nos debates da Reforma que tiveram protagonistas como Lutero e Calvino, conhecido como “doutor subtil”, e cujo excesso desta última qualidade – a subtileza – o terá afastado do (re) conhecimento da generalidade do público.
No entanto, vale a pena pensar nisto: se Escoto foi determinante para os debates posteriores – “durante a Reforma, os debates entre Lutero e Calvino e os seus adversários católicos tiveram como pano de fundo, fundamentalmente, teses escotistas pretensamente verdadeiras”, escreve Anthony Kenny, no volume de Filosofia Medieval, da sua Nova História da Filosofia Ocidental, que a Gradiva vem editando, entre nós – como explicar que os manuais e as aulas de História – nomeadamente no Ensino Secundário - omitam o seu contributo, silenciem os seus escritos, ignorem que polémicas seguintes resultaram da ancoragem em postulados seus? Mais uma vez, a formação dos docentes, a qualidade dos manuais, a indagação última dos fundamentos dos problemas colocados aos alunos ficam em equação. E se, hoje, a filosofia é parente pobre dos currículos escolares, que pensar de qualquer melhoria futura, quanto ao conhecimento mais aturado de outros autores, de outras teses fundamentais? É também desafio a pais e alunos: um cepticismo prudente deverá levar os mais exigentes a seguir novas leituras, a consultar outras obras, a nunca se contentar na procura irrenunciável do autêntico conhecimento: a escola não basta.
De regresso a Escoto, é, ainda, indispensável dizer que “a estrutura na qual Descartes faria assentar os fundamentos da filosofia moderna era, em todos os aspectos essenciais, uma construção erguida em Oxford, por volta de 1300” (A.Kenny). Espaço e tempo onde situamos Escoto. Depois de Oxford, Duns Escoto iria para Paris, à época a principal universidade – que Oxford, então, pretendia mimetizar (dado também curioso, à luz dos rankings universitários actuais…o que mostra como a Terra se move).
Um ponto liga umbilicalmente a viagem de Bento XVI ao Reino Unido (quer nos seus discursos, quer na aceitação mediática da mesma), à evocação de Escoto, à história da filosofia, e, em particular, à filosofia medieval: a necessidade de, sem cessar, questionarmos o bem fundado dos nossos preconceitos, submetê-los à razão e verificar se se justificam. O agnóstico Anthony Kenny reconhece que “havia nos meios académicos a crença generalizada de que a filosofia medieval não merecia ser estudada. Via de regra, esta crença não se baseava em qualquer conhecimento próximo dos textos importantes: era algo mais parecido com uma herança não questionada de um preconceito religioso ou humanista”. E, no entanto, “o estudo da filosofia foi mais profissionalizado durante a Idade Média do que em qualquer outro dos tempos anteriores ao nosso”. Mais: “o quarto de século que separa a Summa Theológica de Aquino, da Lectura de Escoto foi um dos períodos mais importantes da história da filosofia”. E sobre geografia, uma outra lição: “uma história da filosofia ocidental da Idade Média tem de incluir filósofos que não são «ocidentais» em nenhum dos sentidos que o termo tem modernamente, pois as fronteiras da Europa Latina medieval eram, felizmente, porosas a influências do mundo muçulmano e das minorias que viviam no seu seio. A influência de versões latinas de textos de Avicena e Averrois na grande escolástica não foi menor que as obras dos seus predecessores cristãos”.
Registar, igualmente, o trabalho paciente e rigoroso, inevitavelmente longo, que guardar e fixar um texto e um pensamento, proceder a uma verdadeira edição crítica, reclama: “em 1938, a ordem dos Franciscanos criou, em Roma, uma comissão de especialistas com a finalidade de produzir uma edição crítica das obras de Escoto. Este importante texto seria publicado pela imprensa do Vaticano entre 1950 e 1993, com o título Lectura I-II. O volume Lectura III, publicado em 2003, corresponde, com grande probabilidade, ao curso dado por Escoto, em 1303, em Oxford, após se ter exilado em Paris”. Hoje, os estudiosos do pensamento medieval e, especificamente, de Escoto, os filósofos ou teólogos que a ele se dedicam, recorrem, sem qualquer objecção ou obstáculo, à edição do Vaticano. Quanto ao curso ministrado no início do séc.XIV, ficamos ainda a saber que “na Idade Média, um curso universitário adquiria a sua forma definitiva quando o professor comparava os seus próprios planos das lições com os apontamentos dos alunos e fundia estes materiais num texto único e aprovado, conhecido por Ordenatio”.
De entre as asserções de Duns Escoto, reflectidas por (e à luz de) Kenny, gostaria, neste curto espaço, de partilhar a sua ideia acerca da felicidade, deixando-a à consideração do ouvinte. Escoto concorda com Aristóteles e São Tomás de Aquino em que os seres humanos têm uma tendência natural para procurarem a felicidade (affectio comodi), mas, indica, além disso, uma tendência natural para a justiça (affectio iustitiae). “A propensão natural para a justiça é uma tendência para obedecer à lei moral, independentemente das consequências que isso tenha para o nosso bem-estar” (como que a ideia de imperativo categórico, avant la lettre). “A liberdade humana consiste no poder de pôr na balança as exigências incompatíveis da moralidade e da felicidade”. Para lá do questionamento da real incompatibilidade de termos proposta, para aquele que foi Presidente da Academia Britânica, “Escoto tem certamente razão quando sustenta que a própria felicidade não é o único desígnio possível na vida. Uma pessoa pode planear a vida de modo a estar ao serviço da felicidade de outrem ou da promoção de uma determinada causa cujo triunfo seja pouco provável no decurso da sua vida. Uma filha pode prescindir da perspectiva de casar, de ter uma companhia agradável e de uma carreira criativa para dar assistência a um familiar acamado. Afirmar que essas pessoas procuram a sua própria felicidade porque estão a fazer o que querem fazer não é convincente”. Note-se como aqui está em causa a própria noção de altruísmo como (im) possibilidade - a negação da mesma vê o altruísmo como forma particular de egoísmo. Talvez os que neguem o ser do altruísmo tenham lido Sartre e pensem o amor como forma de coisificação do outro, determinando, pois, que o inferno são os outros. Talvez quem tenha lido Pascal Bruckner pense que se pode estar num estádio contrário ao de Perpétua Euforia e que, em muitos casos, os amigos, a família, o outro são o apelo irrecusável, maior mesmo do que a felicidade própria. E essa liberdade de escolha (de vida) não deve ser tiranizada, desde logo pela sua ridicularização.
Pedro Seixas Miranda
No entanto, vale a pena pensar nisto: se Escoto foi determinante para os debates posteriores – “durante a Reforma, os debates entre Lutero e Calvino e os seus adversários católicos tiveram como pano de fundo, fundamentalmente, teses escotistas pretensamente verdadeiras”, escreve Anthony Kenny, no volume de Filosofia Medieval, da sua Nova História da Filosofia Ocidental, que a Gradiva vem editando, entre nós – como explicar que os manuais e as aulas de História – nomeadamente no Ensino Secundário - omitam o seu contributo, silenciem os seus escritos, ignorem que polémicas seguintes resultaram da ancoragem em postulados seus? Mais uma vez, a formação dos docentes, a qualidade dos manuais, a indagação última dos fundamentos dos problemas colocados aos alunos ficam em equação. E se, hoje, a filosofia é parente pobre dos currículos escolares, que pensar de qualquer melhoria futura, quanto ao conhecimento mais aturado de outros autores, de outras teses fundamentais? É também desafio a pais e alunos: um cepticismo prudente deverá levar os mais exigentes a seguir novas leituras, a consultar outras obras, a nunca se contentar na procura irrenunciável do autêntico conhecimento: a escola não basta.
De regresso a Escoto, é, ainda, indispensável dizer que “a estrutura na qual Descartes faria assentar os fundamentos da filosofia moderna era, em todos os aspectos essenciais, uma construção erguida em Oxford, por volta de 1300” (A.Kenny). Espaço e tempo onde situamos Escoto. Depois de Oxford, Duns Escoto iria para Paris, à época a principal universidade – que Oxford, então, pretendia mimetizar (dado também curioso, à luz dos rankings universitários actuais…o que mostra como a Terra se move).
Um ponto liga umbilicalmente a viagem de Bento XVI ao Reino Unido (quer nos seus discursos, quer na aceitação mediática da mesma), à evocação de Escoto, à história da filosofia, e, em particular, à filosofia medieval: a necessidade de, sem cessar, questionarmos o bem fundado dos nossos preconceitos, submetê-los à razão e verificar se se justificam. O agnóstico Anthony Kenny reconhece que “havia nos meios académicos a crença generalizada de que a filosofia medieval não merecia ser estudada. Via de regra, esta crença não se baseava em qualquer conhecimento próximo dos textos importantes: era algo mais parecido com uma herança não questionada de um preconceito religioso ou humanista”. E, no entanto, “o estudo da filosofia foi mais profissionalizado durante a Idade Média do que em qualquer outro dos tempos anteriores ao nosso”. Mais: “o quarto de século que separa a Summa Theológica de Aquino, da Lectura de Escoto foi um dos períodos mais importantes da história da filosofia”. E sobre geografia, uma outra lição: “uma história da filosofia ocidental da Idade Média tem de incluir filósofos que não são «ocidentais» em nenhum dos sentidos que o termo tem modernamente, pois as fronteiras da Europa Latina medieval eram, felizmente, porosas a influências do mundo muçulmano e das minorias que viviam no seu seio. A influência de versões latinas de textos de Avicena e Averrois na grande escolástica não foi menor que as obras dos seus predecessores cristãos”.
Registar, igualmente, o trabalho paciente e rigoroso, inevitavelmente longo, que guardar e fixar um texto e um pensamento, proceder a uma verdadeira edição crítica, reclama: “em 1938, a ordem dos Franciscanos criou, em Roma, uma comissão de especialistas com a finalidade de produzir uma edição crítica das obras de Escoto. Este importante texto seria publicado pela imprensa do Vaticano entre 1950 e 1993, com o título Lectura I-II. O volume Lectura III, publicado em 2003, corresponde, com grande probabilidade, ao curso dado por Escoto, em 1303, em Oxford, após se ter exilado em Paris”. Hoje, os estudiosos do pensamento medieval e, especificamente, de Escoto, os filósofos ou teólogos que a ele se dedicam, recorrem, sem qualquer objecção ou obstáculo, à edição do Vaticano. Quanto ao curso ministrado no início do séc.XIV, ficamos ainda a saber que “na Idade Média, um curso universitário adquiria a sua forma definitiva quando o professor comparava os seus próprios planos das lições com os apontamentos dos alunos e fundia estes materiais num texto único e aprovado, conhecido por Ordenatio”.
De entre as asserções de Duns Escoto, reflectidas por (e à luz de) Kenny, gostaria, neste curto espaço, de partilhar a sua ideia acerca da felicidade, deixando-a à consideração do ouvinte. Escoto concorda com Aristóteles e São Tomás de Aquino em que os seres humanos têm uma tendência natural para procurarem a felicidade (affectio comodi), mas, indica, além disso, uma tendência natural para a justiça (affectio iustitiae). “A propensão natural para a justiça é uma tendência para obedecer à lei moral, independentemente das consequências que isso tenha para o nosso bem-estar” (como que a ideia de imperativo categórico, avant la lettre). “A liberdade humana consiste no poder de pôr na balança as exigências incompatíveis da moralidade e da felicidade”. Para lá do questionamento da real incompatibilidade de termos proposta, para aquele que foi Presidente da Academia Britânica, “Escoto tem certamente razão quando sustenta que a própria felicidade não é o único desígnio possível na vida. Uma pessoa pode planear a vida de modo a estar ao serviço da felicidade de outrem ou da promoção de uma determinada causa cujo triunfo seja pouco provável no decurso da sua vida. Uma filha pode prescindir da perspectiva de casar, de ter uma companhia agradável e de uma carreira criativa para dar assistência a um familiar acamado. Afirmar que essas pessoas procuram a sua própria felicidade porque estão a fazer o que querem fazer não é convincente”. Note-se como aqui está em causa a própria noção de altruísmo como (im) possibilidade - a negação da mesma vê o altruísmo como forma particular de egoísmo. Talvez os que neguem o ser do altruísmo tenham lido Sartre e pensem o amor como forma de coisificação do outro, determinando, pois, que o inferno são os outros. Talvez quem tenha lido Pascal Bruckner pense que se pode estar num estádio contrário ao de Perpétua Euforia e que, em muitos casos, os amigos, a família, o outro são o apelo irrecusável, maior mesmo do que a felicidade própria. E essa liberdade de escolha (de vida) não deve ser tiranizada, desde logo pela sua ridicularização.
Pedro Seixas Miranda
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terça-feira, 21 de setembro de 2010
Continuar
Continuar é a arte da esperança,
É a obra do coração.
É a obra da coragem.
Apenas o verdadeiro esperançoso continua,
Continua na esperança não de acabar,
Mas apenas de continuar.
Apenas o verdadeiro amante continua,
Continua na esperança não de acabar,
Mas apenas de continuar
A amar.
Apenas o verdadeiro corajoso continua,
Continua na esperança de continuar,
Mas sabendo que mais tarde ou mais cedo, irá acabar.
André Machado, 11ºB
É a obra do coração.
É a obra da coragem.
Apenas o verdadeiro esperançoso continua,
Continua na esperança não de acabar,
Mas apenas de continuar.
Apenas o verdadeiro amante continua,
Continua na esperança não de acabar,
Mas apenas de continuar
A amar.
Apenas o verdadeiro corajoso continua,
Continua na esperança de continuar,
Mas sabendo que mais tarde ou mais cedo, irá acabar.
André Machado, 11ºB
Dia europeu das línguas
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
FÉRIAS E TRABALHO
Nas viagens que as férias por vezes propiciam, há quem aceite integralmente o menu disponibilizado pela agência onde tratamos de tudo, pelos guias oficiais, pelos locais obrigatórios, onde serão vistas e ouvidas as imagens e palavras obrigatórias e indispensáveis. Há quem preferira a aventura solitária, mais ou menos programada, à descoberta de locais virgens que o folheto turístico deixa de lado e com que se surpreende os que por ali passaram sem terem visto. Há quem prefira a terceira via e encontre um equilíbrio perfeito entre as duas tendências anteriormente descritas. Mas muitos menos serão, creio, aqueles que, em férias, quando se deslocam a uma cidade/vila/aldeia o fazem para…ver trabalhar. Surpreendido?
Aceitemos a sugestão de Alain de Botton (Alegrias e Tristezas do Trabalho) e pensemos nessa categoria especial que são os observadores de navios cargueiros. Pensem bem neste prazer: ir a uma cidade, em busca de um porto, para, sem qualquer finalidade ou utilidade (eminentemente prática), perceber, estudar, captar, minuciosamente, todos os passos, tudo o que diz respeito a estes navios. Como um coleccionador.
Porque há tão poucos interessados em descobrir os segredos dos navios cargueiros? Botton não é supérfluo na explicação: “tal não se deve apenas ao facto de serem difíceis de localizar e assustadoramente difíceis de identificar. Algumas Igrejas de Veneza também se encontram situadas em locais recônditos, o que não impede que sejam visitadas por um grande número de pessoas. O que torna os navios e os portos invisíveis é um preconceito descabido que leva a que se considere peculiar expressar sentimentos fortes de admiração por um petroleiro ou por uma fábrica de papel, ou, na realidade, por quase todos os aspectos do mundo do trabalho”.
Por isso, os que correm os museus de nome para dizerem que lá estiveram, que por lá passaram – como dizia Carrilho, muito na senda de Lipovetsky, quando tudo é cultura então nada é cultura, e hoje o desconhecimento da grande cultura e, simultaneamente, a sua veneração é uma marca do tempo – não se julguem em outro patamar quando comparados com os observadores de navios. Bem pelo contrário: “Como parecem frívolos os frequentadores de museus, quando comparados com eles, na procura impaciente da cafetaria, na atracção que sentem pelas lojas de recordações, na prontidão com que utilizam os assentos. Muito raramente alguém terá passado duas horas sob uma chuvada intensa diante de Hendrickje banhando-se no rio munido apenas de uma garrafa-termo com café para se aquecer”.
Estes observadores de navios cargueiros são, ainda, detentores de uma resistência psicológica anti-mundana que os faz especialmente atractivos a quem não verga perante todas as normas comunitárias/culturais/societárias: “tão-pouco receiam parecer excêntricos quando a sua curiosidade o exige. Não hesitam em se agachar para poder observar os propulsores dos navios. Adormecem a pensar em que ponto do oceano é que um determinado petroleiro se encontrará naquele momento. O poder de concentração destas pessoas lembra o de uma criança pequena que pára no meio de uma rua de comércio muito movimentada e se baixa para poder examinar, com a atenção de um erudito bíblico que folheia as páginas de um livro em pergaminho velino, um resto de pastilha elástica colado ao pavimento ou o modo de fechar da algibeira do seu casaco. Também são como as crianças pequenas a maneira como fazem tábua-rasa das ideias convencionais sobre o que poderá constituir um bom emprego, valorizando sempre o valor intrínseco de uma profissão, sobrepondo-se aos benefícios relativos em termos materiais, considerando que a função de operador de guindaste num terminal de contentores é particularmente invejável em virtude da posição vantajosa que lhe permite um bom posto de observação dos navios e docas”.
Talvez a paixão sobre a qual vimos falando pareça agora, a uns tantos, um impulso vanguardista. Do que se trata, ao invés, é de um regresso ao passado: “o passatempo dos observadores de navios remonta aos hábitos dos viajantes anteriores à época moderna, que, quando chegavam a um novo país, tinham tendência para mostrar uma curiosidade muito particular pelos seus celeiros, aquedutos, portos e oficinas, convictos de que a observação do trabalho podia ser tão estimulante como assistir a qualquer coisa num palco ou observar o mural de uma capela”.
Não é apenas nas próximas férias e revisão do seu conceito que falamos: falamos, sobretudo, do repensar o trabalho – aqui concebido em forma de beleza, seu valor intrínseco e, no homem, como continuidade da Criação.
Pedro Seixas Miranda
Aceitemos a sugestão de Alain de Botton (Alegrias e Tristezas do Trabalho) e pensemos nessa categoria especial que são os observadores de navios cargueiros. Pensem bem neste prazer: ir a uma cidade, em busca de um porto, para, sem qualquer finalidade ou utilidade (eminentemente prática), perceber, estudar, captar, minuciosamente, todos os passos, tudo o que diz respeito a estes navios. Como um coleccionador.
Porque há tão poucos interessados em descobrir os segredos dos navios cargueiros? Botton não é supérfluo na explicação: “tal não se deve apenas ao facto de serem difíceis de localizar e assustadoramente difíceis de identificar. Algumas Igrejas de Veneza também se encontram situadas em locais recônditos, o que não impede que sejam visitadas por um grande número de pessoas. O que torna os navios e os portos invisíveis é um preconceito descabido que leva a que se considere peculiar expressar sentimentos fortes de admiração por um petroleiro ou por uma fábrica de papel, ou, na realidade, por quase todos os aspectos do mundo do trabalho”.
Por isso, os que correm os museus de nome para dizerem que lá estiveram, que por lá passaram – como dizia Carrilho, muito na senda de Lipovetsky, quando tudo é cultura então nada é cultura, e hoje o desconhecimento da grande cultura e, simultaneamente, a sua veneração é uma marca do tempo – não se julguem em outro patamar quando comparados com os observadores de navios. Bem pelo contrário: “Como parecem frívolos os frequentadores de museus, quando comparados com eles, na procura impaciente da cafetaria, na atracção que sentem pelas lojas de recordações, na prontidão com que utilizam os assentos. Muito raramente alguém terá passado duas horas sob uma chuvada intensa diante de Hendrickje banhando-se no rio munido apenas de uma garrafa-termo com café para se aquecer”.
Estes observadores de navios cargueiros são, ainda, detentores de uma resistência psicológica anti-mundana que os faz especialmente atractivos a quem não verga perante todas as normas comunitárias/culturais/societárias: “tão-pouco receiam parecer excêntricos quando a sua curiosidade o exige. Não hesitam em se agachar para poder observar os propulsores dos navios. Adormecem a pensar em que ponto do oceano é que um determinado petroleiro se encontrará naquele momento. O poder de concentração destas pessoas lembra o de uma criança pequena que pára no meio de uma rua de comércio muito movimentada e se baixa para poder examinar, com a atenção de um erudito bíblico que folheia as páginas de um livro em pergaminho velino, um resto de pastilha elástica colado ao pavimento ou o modo de fechar da algibeira do seu casaco. Também são como as crianças pequenas a maneira como fazem tábua-rasa das ideias convencionais sobre o que poderá constituir um bom emprego, valorizando sempre o valor intrínseco de uma profissão, sobrepondo-se aos benefícios relativos em termos materiais, considerando que a função de operador de guindaste num terminal de contentores é particularmente invejável em virtude da posição vantajosa que lhe permite um bom posto de observação dos navios e docas”.
Talvez a paixão sobre a qual vimos falando pareça agora, a uns tantos, um impulso vanguardista. Do que se trata, ao invés, é de um regresso ao passado: “o passatempo dos observadores de navios remonta aos hábitos dos viajantes anteriores à época moderna, que, quando chegavam a um novo país, tinham tendência para mostrar uma curiosidade muito particular pelos seus celeiros, aquedutos, portos e oficinas, convictos de que a observação do trabalho podia ser tão estimulante como assistir a qualquer coisa num palco ou observar o mural de uma capela”.
Não é apenas nas próximas férias e revisão do seu conceito que falamos: falamos, sobretudo, do repensar o trabalho – aqui concebido em forma de beleza, seu valor intrínseco e, no homem, como continuidade da Criação.
Pedro Seixas Miranda
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Cerimónia de Entrega do Diploma e Prémio de Mérito
Dr. Vitor Lousada no discurso de abertura.
O local do reencontro e da cerimónia.
12ºA
12ºB
Drª Fátima Manuela, Directora da Escola, e Francisco António Nogueira Gonçalves, Prémio de Mérito.
12ºC
12ºB
Drª Fátima Manuela, Directora da Escola, e Francisco António Nogueira Gonçalves, Prémio de Mérito.
12ºC
12ºD
12ºE
12ºF
12ºG
12ºH
12ºE
12ºF
12ºG
12ºH
12ºI
12ºJ
Drª Fátima Manuela, Directora da Escola, e Tânia Elisa Carvalho Correia, Prémio de Mérito ( Curso Profissional ).
Drª Fátima Manuela, Directora da Escola, e Tânia Elisa Carvalho Correia, Prémio de Mérito ( Curso Profissional ).
Felicidades a todos
Fotos e legendas: João Costa
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Dia do Diploma
Dia 8 de Setembro, pelas 10 horas, decorrerá a cerimónia de entrega dos Diplomas relativos aos cursos do ensino secundário terminados no ano lectivo 2009-2010.
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