domingo, 31 de outubro de 2010
Do País que resiste
Principais problemas detectados, e que aqui convém recensear, quanto ao nosso sistema de ensino, identificados a partir dos testes nacionais e internacionais aplicados aos nossos alunos: se “os resultados nos saberes que exigem menor elaboração cognitiva, onde o aluno se limita a reproduzir conhecimentos, a aplicar procedimentos de carácter rotineiro e a recorrer a raciocínios simples” poderão ser satisfatórios, já a capacidade relativamente a raciocínios mais complexos e perante situações inusuais é clara. Ou seja, não é tanto um problema de aquisição de conhecimentos quanto o de pensar os problemas. Para David Justino, há também um problema na transição de ciclos, na descontinuidade de ambientes, pelo que propõe a extensão do primeiro ciclo até ao sexto ano, como sucede em outros países, até pela questão da maturidade psicológica, bem como a ideia de prolongamento do aluno durante mais anos no mesmo espaço físico. Defensor da avaliação, demonstra como a introdução de exames não contribuiu para qualquer insucesso educativo – como aumento das reprovações, antes o inverso sucedeu.
Relativamente à questão da economia do ensino, Justino diz-nos que temos o ensino pré-primário mais caro de entre um conjunto lato de países; o Secundário tem, igualmente, um custo elevado. Mas, no seu entender, a questão não passa propriamente por diminuir os recursos afectos à Educação; antes, com este nível de recursos, conseguir que sejam mais os que dele beneficiam, o que implica um sério esforço para impedir tanto o insucesso quanto o abandono escolares. Nesse sentido, e também rumo a uma maior equidade social potenciada pelo ensino, este deve aumentar a sua exigência e as expectativas face ao aluno, puxando-o para cima e não o inverso como, no entender de muitos, tem sucedido. Quanto à questão dos custos com o ensino, sempre poderíamos dizer com Carrilho, a partir do seu último livro, que se, em alguns casos, gastamos mais em educação do que outros países, tal não deve ser visto em abstracto, esquecendo o ponto de partida dos países em comparação, negligenciando o nosso atraso relativamente a estes (e basta ver as taxas de alfabetização e nível de escolaridade com que partimos na corrida nos últimos 30 anos, para só nos referirmos a estes). Dito isto, Justino afasta e envergonha-se de frases de café como “no meu tempo é que era bom”, ou “agora nem sabem ler e escrever, nem fazer contas”, por dois motivos: um, porque as gerações mais jovens tendem, no seu global, a terem muito maior escolaridade e qualificação que as anteriores; dois, porque se a actual instrução é, ainda assim, deficitária, essa responsabilidade deve ser acometida à geração que tantas vezes produz tais críticas mais ou menos apocalípticas. Para o futuro, a ideia de que nenhuma melhoria tecnológica poderá dispensar o background cultural: não é da tecnologia que se vai à educação; é da educação que se chega à tecnologia. Demoramos, em média, quinze anos para formar os cidadãos do futuro e, manifestamente, não estamos a pensar em 2025 e em 2040 e a confrontar projectos não apenas de como o mundo vai ser, mas como gostaríamos de conformá-lo. Uma grande diversidade formativa cultural, a par de conhecimentos sólidos nas ciências, o tempo do silêncio e da reflexão como urgência face ao problema do excesso de mediatismo que pesa sobre a educação, além da disciplina, do treino, do trabalho e rigor, ingredientes indispensáveis quando estamos em um mundo em constante devir, incerto, e no qual a exposição à inovação é permanente.
Pedro Seixas Miranda
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Convite - Apresentação do livro "Discursos Académicos"
domingo, 24 de outubro de 2010
O Mundo, hoje
A Ásia concentrou em si metade da riqueza global em 18 dos últimos 20 séculos. Porém, tudo mudou nos últimos 200 anos, por via do factor revolução industrial, que abriu um fosso enorme entre os países industrializados e os pobres. Mas o séc. XXI trouxe novidades sensíveis: na primeira década desta centúria, os países emergentes, com a China e a Índia à cabeça (mas sem esquecer os países africanos e do Leste Europeu), cresceram 82%, enquanto os países desenvolvidos se ficaram pelos 17%, cerca de cinco vezes menos, segundo o Relatório de Perspectivas Mundiais, publicado pelo FMI. Na próxima meia década, China e Índia crescerão mais de 50%, enquanto os países europeus, nos melhores dos casos, irão até aos 10% (Portugal, na cauda do pelotão, crescerá 4,1% nos próximos 5 anos), e os EUA ainda abaixo dos 15%, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional. Claro que as diferenças de renda dos países mais desenvolvidos para os emergentes são ainda gigantescas; claro que as contradições, as desigualdades, as bolsas de pobreza extrema no interior das sociedades emergentes são ainda imensas. Mas que a tensão está no ar, que o medo de perda de qualidade de um estilo de vida, que o regresso ao proteccionismo e à guerra cambial são evocados, disso já ninguém duvida no chamado mundo desenvolvido, e na Europa em particular. Os tumultos junto a protestos pacíficos em França, com muita gente nas ruas, parecem ser a metáfora perfeita – para lá das motivações puramente internas francesas - deste conflito por um padrão civilizacional. As dores desta perda parecem ecoar, também, nas declarações sobre o falhanço do multiculturalismo, feitas esta semana por Angela Merkel. Ou no tratamento dos ciganos, aliás inadmissível, em diferentes países europeus. Para nos fixarmos no mundo multicultural, gostaria de chamar a atenção para dois textos publicados esta semana (ambos no jornal EL PAIS). Um, do filósofo iraniano Ramin Jahanbengloo, que fazia apelo à memória da Córdoba medieval, onde as três confissões abraâmicas conviviam em paz e harmonia, sendo a tolerância um princípio norteador e o avanço na teologia, astronomia, matemática, teoria social e leis a fazer-se de modo comum. “Este processo de compreensão mútua era um processo de escutar o outro e aprender com ele, de mútua aprendizagem (…) Os momentos fluidos de criação artística e filosófica e de diálogo intercultural e o vínculo nascido de uma nova indagação moral conjunta contra o preconceito e o fanatismo destrutivos foram possíveis graças à dinâmica integradora gerada pelos espaços de confiança e solidariedade”. No entender de Jahanbengloo, a lição do “paradigma de Córdoba” para a Europa de hoje é a da necessidade de internalização do outro, isto é, o processo que nos permita fazer nossos os rasgos culturais alheios. E deixa duas questões: poderá a Europa superar a sua atitude negativa e intolerante face ao Islão? Mais importante: podem os muçulmanos europeus esquecer-se de procurar culpados e transferirem as energias positivas das suas comunidades para um novo espírito de conversação intercultural e cooperação inter-religiosa?
O outro texto que gostaria de referir, do esloveno Slavoj Zizek, realça que após a queda do comunismo e com os problemas económicos a não serem, agora, apenas um intervalo breve, mas a tenderem a prosseguir por longos períodos, o quadro político, na última década, deixou de ser o tradicional – no centro-direita, partidos liberais-conservadores, populares e democratas-cristãos; no centro-esquerda, partidos socialistas ou sociais-democratas, a que se juntariam grupos minúsculos de ecologistas e/ou comunistas) – para passar a incluir, em diferentes países – Polónia, Noruega, Hungria, Holanda, Suécia… - partidos abertamente xenófobos e racistas, capazes de introduzir a única forma de apaixonar, nos nossos dias, os eleitores: os imigrantes, a delinquência, a depravação sexual, o excesso do Estado, a catástrofe ecológica. Assim, o grande acontecimento político da última década, no entender deste pensador, é a entrada na ortodoxia política do discurso anti-imigração, antes restrito às margens (à heterodoxia) do sistema político. “O Outro está bem, desde que não incomode, desde que não seja, realmente, um Outro…O meu dever de tolerância para com o outro significa que não devo aproximar-me muito dele, meter-me no seu espaço”. A ironia de Zizek prossegue, falando nos seres tóxicos que é necessário colocar de quarentena, retirando-lhe a sua componente nociva (neste caso, de diferença problemática): café sem cafeína, cerveja sem álcool, sexo virtual que é sexo sem sexo, doutrina da guerra sem vítimas, ou seja, guerra sem guerra, e a política como técnica e administração de interesses, isto é, a política sem política; assim, até chegarmos ao Outro despido de outreidade, a qual não toleramos. O que Zizek, todavia, não quer ver, é que precisamente o modelo de sociedade em que a única obrigação para com o vizinho é uma obrigação de non faccere, de não interferência, levou, também, a que este, o vizinho, se pudesse enquistar numa cultura tantas vezes de desrespeito pelos direitos fundamentais da pessoa humana (e em concreto, as mais das vezes, da mulher). A cultura – ou o colectivo - não pode estar acima da pessoa (e muito menos atropelá-la) e esta constatação, muitas vezes, parece não entrar no léxico de autores de esquerda (como Zizek). E que na aprendizagem recíproca, importa que dois lados estejam dispostos a encontrar-se. Não bastará apenas um mudar de atitude. E hoje, como muitos têm sublinhado, em nome da diferença cultural, de facto não se pode ser tolerante com a intolerância. Ainda assim, não deixámos de registar, quando o ódio entra em liça e o populismo causa e consequência da ignorância se impõe perigosamente, a conclusão do filósofo esloveno: “Esta concepção de desintoxicação do vizinho supõe um passo claro da barbárie directamente à barbárie com rosto humano. Plasma um retrocesso que vai desde o amor cristão ao vizinho até à prática pagã de privilegiar a própria tribo frente ao Outro Bárbaro. Esta ideia, ainda que envolta na defesa de valores cristãos, constitui, em si mesma, a principal ameaça ao legado cristão”.
Pedro Seixas Miranda
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Feira do Livro
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
O carbono 60, a bola de futebol e a igualdade de Euler
O que são fulerenos?
Fulerenos são formas muito estáveis do carbono. Um dos fulerenos é o C60 designado por buckminsterfulereno em homenagem ao arquitecto Buckminster Fuller ( 1895-1983) pelas suas famosas estruturas - as cúpulas geodésicas.
Pela semelhança da sua estrutura com a de uma bola de futebol também se designa este alótropo do carbono por buckyball ou futeboleno.
Truncando os vértices de um icosaedro chegamos ao poliedro que deu origem à bola de futebol.
A geometria da bola de futebol
Na bola de futebol há 60 vértices (V = 60) e 32 faces (F = 32). Como em cada vértice confluem 3 arestas, então há 90 arestas ( A = 3x60/2) (nota que cada aresta "conta" para dois vértices). Verifica-se aqui a igualdade de Euler (F + V = A + 2).
Quantas faces pentagonais há em qualquer fulereno?
Em qualquer fulereno cada átomo - vértice- está ligado a 3 outros átomos. O número de ligações - arestas - é então A = 3V/2 ou seja V = 2A/3.
Da igualdade de Euler vem que F + 2A/3 = A + 2 e obtemos F = A/3 + 2.
Mas num fulereno há P faces pentagonais e H faces hexagonais o que implica que:
F = P + H e A =(5P + 6H)/2 ( 5 arestas de cada pentágono e 6 arestas de cada hexágono, sendo cada aresta "partilhada" por duas faces).
Assim A = (5P + 6(A/3 +2 - P))/2 equação que resolvida dá P=12. Assim qualquer fulereno tem 12 faces pentagonais variando unicamente o número de faces hexagonais.
No caso do C60, cada pentágono está rodeado por um colar de cinco hexágonos. Se o número desses colares ao redor de cada pentágono for aumentado para 2, 3 ou mais, obtém-se uma família de fulerenos gigantes que começa com C240 e C540 (a família é dada por C60n2, onde n = 1, 2, 3 etc.).
Essas moléculas, à medida que se tornam maiores, ficam menos esféricas.
In http://divulgarciencia.com/author/fernanda-carvalhal/
Enviado por António Teixeira
XXIX Olimpíadas Portuguesas de Matemática
Este ano, as OPM vão estender-se a outros níveis de ensino, dando assim oportunidade aos estudantes mais novos de participar. Neste sentido, foram criadas as Mini-Olimpíadas para os alunos dos 3.º e 4.º anos, as Pré-Olimpíadas passam a destinar-se aos alunos do 5.º ano e, para os alunos dos 6.º e 7.º anos, foi preparada a Categoria Júnior. Mantêm-se a Categoria A para os estudantes dos 8.º e 9.º anos e a Categoria B para os dos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade.
Nas Categorias Júnior (6.º e 7.º anos), A (8.º e 9.º anos) e B (10.º, 11.º e 12.º anos) haverá duas eliminatórias e uma Final Nacional que, nesta edição, terá lugar na Escola Secundária de Carlos Amarante, em Braga. A 1ª eliminatória realiza-se em 10 de Novembro.
INSCREVE-TE E PARTICIPA.
VAI A http://www.spm.pt/ E INFORMA-TE, TENS LÁ PROBLEMAS PARA RESOLVERES E “TREINAR”.
O Professor e responsável: António Teixeira
domingo, 17 de outubro de 2010
Benoit Mandelbrot
As suas descobertas foram aplicadas a vários domínios, como a geologia, medicina, astronomia ou engenharia.
O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, homenageou a memória de Mandelbrot, em comunicado, considerando-o um “espírito forte, original, que jamais hesitou inovar”.
Nascido em Varsóvia, Polónia, a 20 de Novembro de 1924, numa família judaica de origem lituana, Mandelbrot fugiu da ameaça nazi refugiando-se em França com a sua família, antes de se instalar nos Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial.
O matemático desenvolveu os objectos fractais, uma nova classe de objectos matemáticos, cujos contornos desiguais podem imitar as irregularidades encontradas na natureza. Defendia objectos matemáticos que os seus pares consideravam “monstruosos”.
Numa entrevista ao jornal francês “Fígaro”, publicada em 1989, Mandelbrot explicava: “sempre pensei que existisse uma ordem na natureza. E estou muito contente por mostrá-la”.
Antigo aluno da escola Politécnica de Paris, Mandelbrot foi professor emérito da Universidade de Yale, em Connecticut, EUA. Antes de entrar no Centro de Investigação da IBM em 1958, o investigador trabalhou no Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS), em Paris.
Fonte: Público on-line
Enviado por António Teixeira
Ver mais em : http://www.publico.pt/Mundo/morreu-mandelbrot-o-pai-dos-fractais_1461407
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
DIZEM QUE É CORAGEM
Dizem, e dizem os comentadores, os fiscalistas, os economistas, os especialistas e os experts, todos os istas que passam na tvcabo que por acaso não há em casa da Elisabete, do Ricardo, do Vítor, da Ana e do Tiago que assim não ouvem tão sábias criaturas, que houve coragem em reduzir as despesas. Não sei se os istas, não sei se os bárbaros de que falava Gasset, se apercebem de que as despesas são também com as famílias que ganham mais de 628€ e deixam, agora, de receber abono de família; ou com os que ganham menos de 420€, e que recebiam 43€ por cada filho com mais de um ano, e vão deixar de receber, pelo menos, esse exacto montante; ou, ainda, que os que recebem, em média, 88,92€ de RSI vêem, com apreensão, os cortes em 20% neste instrumento de uma reduzidíssima mitigação da pobreza. Sei que os istas, se conhecessem a Elisabete, o Ricardo, o Vítor, a Ana e o Tiago não falavam assim.
Dizem que a melhor, ou mais eficaz forma de demagogia é trazer casos concretos e generalizar. Em Portugal, há 23% de crianças pobres. Não se trata de generalizar, em nome de qualquer meia-dúzia de casos concretos. Trata-se de dar nome e de personalizar, o que alguns gostam de tratar em gráficos e estatística. Houve coragem, sim, mas por parte da revista Sábado, que este fim-de-semana publicou uma reportagem de leitura obrigatória. Que é mais um murro no estômago da cidadania, e honra o jornalismo. Responsabilize-se quem permitiu que chegássemos aqui, desde logo. E, se estamos realmente preocupados com os desvalidos, apoiemos plataformas políticas – para além das ajudas particulares - que procurem não apenas na denúncia, mas na construção de soluções, que este grupo de pessoas não sofra ainda mais. Que isso se faça já, relativamente a este orçamento de Estado. Que se negoceie em nome deles e por eles. Que não se recuse toda e qualquer negociação em nome de uma virgindade política que não ajuda a resolver nenhum problema, nem, por outro lado, em nome de um tacticismo obsceno.
Uma antropologia em que a primazia do outro fosse uma realidade, trar-nos-ia, diariamente, a epifania do rosto do indigente (para citar Levinas), o outro que é estrangeiro, órfão, viúva, pedinte, o outro que me olha de cima, que exige e tem direito a exigir. Nas relações interpessoais e na vivência política, não devemos esquecer a advertência de Gevaert (em O Problema do Homem): “Sejamos concretos: amar um ser humano significa fazer o possível para que ele possa comer, vestir-se, ter uma casa, aceder à educação e à cultura, ter segurança social e desenvolver livremente as dimensões fundamentais da existência. Nenhum amor autêntico pode esquecer que o ser humano tem um corpo, é indigente e é chamado a realizar-se no mundo com os outros. Por isso, o amor cria também estruturas de direito e de justiça”.
Longe das egologias que centram o homem em si (mesmo), na sua consciência, na sua relação com a matéria; longe dos colectivismos, onde o EU não passa de uma peça numa engrenagem e está despersonalizado em função de uma grande sociedade, o TU é o caminho de cumprimento do homem-ser-com-e-para-os-outros-necessitado-de-amar-e-ser-amado. Muitas das nossas discussões públicas deviam partir da antropologia que temos subjacentes: que é para ti o homem? Para Adriano Moreira, texto tão lúcido ainda esta semana no DN, o homem ocidental, se quer dar lições noutras/para outras paragens, tem que começar por se concretizar agora e aqui. E isso passa, e cito-o, pela aplicação da “principiologia do Estado Social”. Quem conhece o pensamento democrata-cristão não se espanta que na memória do tempo de vésperas de um dos últimos moicanos – como explica Tony Judt – a Bragança dos meninos descalços a irem para a escola na neve invernosa, não seja modelo a imitar tantas décadas depois.
Pedro Seixas Miranda
terça-feira, 12 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
POLÓNIA
Na experiência recente polaca, poderemos notar como a maturidade da sociedade civil foi indispensável para que a solução de liberdade pudesse emergir de modo não violento: o primeiro regresso de João Paulo II a casa teve uma reacção contida, mas desembocaria mais tarde, um ano depois, na criação do movimento solidarnosc (o solidariedade) de resistência – mais do que política, cultural – ao regime comunista; como um movimento sólido, com fundamentos claros e apoio societário é exemplo e pode contagiar países vizinhos: foi assim que sucedeu, com o sucedâneo movimento Sajudis, na Lituânia; como a memoria é um ingrediente extremamente interessante de racionalizar: desde o museu Solidarnosc, à perseguição daqueles que foram membros do regime comunista e passaram para a função pública do novo regime, até sondagens em que uma percentagem considerável dizia ser preferível a vida anterior (dados de 1998), tudo se encaminha para a radicalidade da dúvida: somos seres capazes de aprender com a memória, o regresso à história consegue mesmo impelir-nos a não trilhar caminhos errados e tortuosos de novo? (e aí viajaríamos com Reinhart Koseleck em busca de respostas); como, após décadas de partido único, se semearam partidos até à exaustão (em 1991 existiam, note-se, 105 partidos oficiais na Polónia); mas, como a normalização democrática foi levando, ao invés e sucessivamente, menos gente às urnas; tendência novamente invertida sempre que uma figura especialmente carismática se abalançava a eleições (algo que o culto de personalidade patente nas sociedades do chamado Leste europeu, durante décadas, potenciou); como o mais importante, talvez, que a identidade de um povo e de um país – no fim do sec.X, Mieszko I criou um estado polaco e, com a sua conversão ao cristianismo fortaleceu notavelmente as suas bases identitárias, que assentariam raízes mesmo quando populações e territórios foram despedaçados pelos vizinhos, russos sobretudo, desde logo no séc.XVIII, mesmo com os terríveis sofrimentos (deportações, execuções) durante a II Guerra Mundial – não poder ser traída ou negada por qualquer tipo de arrivismo, lideranças torpes e impreparadas, ignorância ou ambição desmedida. Hoje, Portugal bem precisa de aprender esta lição. E ao grupo de estudos alemães, após o ciclo dedicado à queda do muro de Berlim, deve ainda ser creditada a tal visão de universia, de integrum, de conjunto, de uma universidade que é, que deve ser mais do que as técnicas e a linguagem de cada oficio. E na Universidade Moderna, como dissemos na última semana, a ideia da literatura como sendo o elo de ligação para uma cultura comum como que se impôs a filosofia. Algo que o prémio Nobel da Literatura 2010, Vargas Llosa explicava assim num artigo na New Republic, (ler na íntegra e em português em www.tirodeletra.com.br) em 2001: "Vivemos numa época de especialização do conhecimento, causada pelo prodigioso desenvolvimento da ciência e da técnica, e da sua fragmentação em inumeráveis afluentes e compartimentos estanques. A especialização permite aprofundar a exploração e a experimentação, e é o motor do progresso; mas determina também, como consequência negativa, a eliminação daqueles denominadores comuns da cultura graças aos quais os homens e as mulheres podem coexistir, comunicar-se e se sentir de algum modo solidários. A especialização leva à incomunicabilidade social, à fragmentação do conjunto de seres humanos em guetos culturais de técnicos e especialistas, aos quais a linguagem, alguns códigos e a informação progressivamente setorizada relegam naquele particularismo contra o qual nos alertava o antiquíssimo adágio: não é necessário se concentrar tanto no ramo nem na folha, a ponto de esquecer que eles fazem parte de uma árvore, e esta de um bosque. O sentido de pertença, que conserva unido o corpo social e o impede de se desintegrar em uma miríade de particularismos solipsistas, depende, em boa medida, de que se tenha uma consciência precisa da existência do bosque. E o solipsismo - de povos ou indivíduos - gera paranóias e delírios, as deformações da realidade que sempre dão origem ao ódio, às guerras e aos genocídios. A ciência e a técnica não podem mais cumprir aquela função cultural integradora em nosso tempo, precisamente pela infinita riqueza de conhecimentos e da rapidez de sua evolução que levou à especialização e ao uso de vocabulários herméticos. A literatura, ao contrário, diferentemente da ciência e da técnica, é, foi e continuará sendo, enquanto existir, um desses denominadores comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e dialogam, independentemente de quão distintas sejam suas ocupações e seus desígnios vitais, as geografias, as circunstâncias em que se encontram e as conjunturas históricas que lhes determinam o horizonte. Nós, leitores de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstoi, nos sentimos membros da mesma espécie porque, nas obras que eles criaram, aprendemos aquilo que partilhamos como seres humanos, o que permanece em todos nós além do amplo leque de diferenças que nos separam. E nada defende melhor os seres vivos contra a estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, das obtusidades localistas do sectarismo religioso ou político, ou dos nacionalismos discriminatórios, do que a comprovação constante que sempre aparece na grande literatura: a igualdade essencial de homens e mulheres em todas as latitudes, e a injustiça representada pelo estabelecimento entre eles de formas de discriminação, sujeição ou exploração."
Pedro Seixas Miranda
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Da minha janela
A paisagem que observo localiza-se em grande parte no centro de Vila Real, nas encostas das Serras do Marão e do Alvão.
Da minha janela vejo uma deslumbrante paisagem: uma vasta vegetação, muitas casas, a Serra do Marão e a do Alvão…
Em primeiro plano vejo três vivendas, duas amarelas e uma cor-de-rosa. Têm, em cada uma, um bonito jardim com muitas flores. À frente, as casas escondidas por entre as grandes e altas árvores verdes, que se manifestam como se fossem um Império! As casas são de diversas e variadas cores: vermelhas, pretas, cinzentas, etc. Também vejo os carros a passar.
Em segundo plano, a bela serra do Alvão, como se fosse um muro impenetrável. Na encosta da serra, vêem-se aglomerados de casas que compõe o distrito de Vila Real.
À direita, o “Continente”, o quartel militar, e uma Cooperativa de Habitação (muitas casas iguais como se fossem um bairro).
Desviando o meu olhar para a esquerda, vejo a Torre da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e, mais uma vez, muitas casas, o Centro Comercial e a ponte de ferro, já muito antiga, sobre o rio Corgo.
Em terceiro plano, as nuvens não estão presentes, o céu está limpo, e o Sol brilha forte.
É esta a magnífica vista que eu tenho da minha janela.
Nesta paisagem, é normal ver a vasta vegetação e as serras, pois estamos numa região do Norte de Portugal. A restante paisagem já sofreu a intervenção humana.
Em suma, é uma paisagem tipicamente transmontana, que no Inverno está frequentemente coberta de neve. E é uma paisagem humanizada, pois nota-se claramente a intervenção do Homem: as casas, os edifícios construídos e também os aerogeradores no cume da serra do Alvão.Texto e imagem: João Ricardo Vaz Lopes, 7ºE
CIÊNCIA VERSUS LITERATURA PARA O NOBEL VARGAS LLOSA
"Vivemos numa época de especialização do conhecimento, causada pelo prodigioso desenvolvimento da ciência e da técnica, e da sua fragmentação em inumeráveis afluentes e compartimentos estanques. A especialização permite aprofundar a exploração e a experimentação, e é o motor do progresso; mas determina também, como consequência negativa, a eliminação daqueles denominadores comuns da cultura graças aos quais os homens e as mulheres podem coexistir, comunicar-se e se sentir de algum modo solidários.
A especialização leva à incomunicabilidade social, à fragmentação do conjunto de seres humanos em guetos culturais de técnicos e especialistas, aos quais a linguagem, alguns códigos e a informação progressivamente setorizada relegam naquele particularismo contra o qual nos alertava o antiquíssimo adágio: não é necessário se concentrar tanto no ramo nem na folha, a ponto de esquecer que eles fazem parte de uma árvore, e esta de um bosque. O sentido de pertencimento, que conserva unido o corpo social e o impede de se desintegrar em uma miríade de particularismos solipsistas, depende, em boa medida, de que se tenha uma consciência precisa da existência do bosque. E o solipsismo - de povos ou indivíduos - gera paranoias e delírios, as deformações da realidade que sempre dão origem ao ódio, às guerras e aos genocídios. A ciência e a técnica não podem mais cumprir aquela função cultural integradora em nosso tempo, preci-samente pela infinita riqueza de conhecimentos e da rapidez de sua evolução que levou à especialização e ao uso de vocabulários herméticos.
A literatura, ao contrário, diferentemente da ciência e da técnica, é, foi e continuará sendo, enquanto existir, um desses denominadores comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e dialogam, independentemente de quão distintas sejam suas ocupações e seus desígnios vitais, as geografias, as circunstâncias em que se encontram e as conjunturas históricas que lhes determinam o horizonte. Nós, leitores de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstoi, nos sentimos membros da mesma espécie porque, nas obras que eles criaram, aprendemos aquilo que partilhamos como seres humanos, o que permanece em todos nós além do amplo leque de diferenças que nos separam. E nada defende melhor os seres vivos contra a estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, das obtusidades localistas do sectarismo religioso ou político, ou dos nacionalismos discriminatórios, do que a comprovação constante que sempre aparece na grande literatura: a igualdade essencial de homens e mulheres em todas as latitudes, e a injustiça representada pelo estabelecimento entre eles de formas de discriminação, sujeição ou exploração."
NA ESCOLA, de Jorge Cramez
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Da minha janela consigo observar a cidade de Vila Real e arredores, algumas aldeias como a de Agarez, Adoufe, Relva, entre outras.
Também observo a serra do Alvão. Por cima da serra estão os aerogeradores que produzem energia eléctrica e que nos oferecem muita energia não poluente. O vento é uma grande fonte natural de energia que não tem custos para nós.
A paisagem que observo é urbana e rural, porque quando olho lá para fora consigo ver a cidade e o campo. No campo consigo observar as casas distribuídas pela encosta da serra do Alvão, assim como consigo identificar campos agrícolas e zonas de floresta.
Da minha janela, na cidade de Vila Real, aquilo que observo na paisagem urbana, que é a mais bonita e a que mais me agrada, é a ponte de ferro. Na paisagem rural, o que observo é a serra do Alvão.
As imagens que se seguem são exemplo de paisagens humanizadas:
1. A ponte de ferro que une as duas margens do rio Corgo.
3. Os aerogeradores na Serra do Alvão.
Texto e imagens: João Miguel Vaz Tello da Gama Amaral, 7º E
domingo, 3 de outubro de 2010
Comemoração do dia Europeu das Línguas.
A 26 de Setembro comemorou-se, na sala de estudo, o dia Europeu das Línguas.
Para além de expositores alusivos às diversas línguas do mundo, os alunos que por lá passaram puderam folhear livros, BD, mapas, roteiros de diversas capitais europeias representativos das línguas portuguesa, francesa, espanhola, alemã e inglesa; puderam consultar sítios e fazer jogos em suporte informático, referentes aos diversos idiomas.
A exposição contou ainda com alguns trabalhos de alunos dos ensinos Básico e Secundário nas disciplinas de português, francês, espanhol e alemão.
Um louvor a todos os alunos e professores que participaram na divulgação deste dia, com magníficos trabalhos expostos no átrio da escola e com a parceria da biblioteca.
A responsável pela sala de estudo
Brízida Azevedo (Texto e imagem)
DA UNIVERSIDADE
2- Não sei se no início de cada ano lectivo, nas universidades portuguesas, alunos e professores dão continuidade a uma conversação tão interminável quanto indispensável: o diálogo sobre a missão, o papel, o objecto e os objectivos, o desígnio da instituição onde se encontram.
3- Em primeiro lugar, constatar que a universidade é, historicamente, uma instituição tipicamente europeia. Significa, isto, pois, que face a outras potências e faculdades – que não a inteligência – o homem europeu decidiu viver da sua inteligência e a partir dela. E essa não foi, durante séculos, a opção de outros povos.
4- A Universidade surge na Idade Média. Na sua evolução histórica, sempre diríamos que “comparada com a medieval, a universidade contemporânea complicou o ensino profissional que aquela em gérmen proporcionava, e agregou a investigação, retirando por completo o ensino ou transmissão da cultura”. Como escrevia, já em 1930, Ortega e Gasset, sobre a Missão da Universidade, “isto foi evidentemente uma atrocidade. Funestas consequências disso que agora paga a Europa. O carácter catastrófico da situação presente europeia deve-se a que o inglês médio, o francês médio, o alemão médio são incultos, não possuem o sistema vital de ideias sobre o mundo e o homem correspondentes ao seu tempo. Essa personagem média é o novo bárbaro, atrasado em relação à sua época, arcaico e primitivo em comparação com a terrível actualidade e data dos seus problemas. Este novo bárbaro é principalmente o profissional, mais sábio do que nunca, mas mais inculto também – o engenheiro, o médico, o advogado, o cientista”.
5- Em terceiro lugar, olhando de novo para as origens da Universidade na Idade Média, dizer que esta não investigava. Ocupava-se muito pouco da profissão. Nela, tudo é cultura geral – teologia, filosofia, artes. Se a filosofia oferece panorâmica geral, por sobre todos os outros saberes, assim que as ciências se autonomizam, assim que o conhecimento e a informação passam a ser pouco domesticáveis, assim que a especialização predomina na divisão do trabalho obrigatória, a fragmentação passa a ser norma.
6- Claro que ainda assim, como nota Bill Readings, em A Universidade em Ruínas, na ideia moderna de Universidade estiveram presentes a razão (kantiana) – capaz de questionar a tradição e a natureza – a ideia de cultura – com os idealistas alemães, com Humboldt aqui a ser decisivo, procurando com a wissenchaft, com a ciência especulativa que é unidade subjacente a todas as actividades dos saberes específicos, a busca especulativa da unidade do conhecimento que marca um povo cultivado. Essa unidade de saberes integrados era, claro, propriedade dos gregos e está agora perdida – e a cultura literária – onde os anglo-saxónicos veriam a tal possibilidade de unidade (literatura que substitui a filosofia, nessa ordem unitária, e que cavará o fosso para as ciências enquanto outra cultura, como reflectiu C.P. Snow). A Universidade contribuía para a formação de uma cultura nacional, dela se esperava a formação de um conjunto de referências comuns que entretanto a eclosão da globalização tornou desnecessária ou impraticável, contribuindo, deste modo, também – ao lermos Readings, assim cremos – para a tal a sociedade liquefeita, estilhaçada e fragmentada (onde será já a ideia de excelência, à escala planetária, feita de rankings e top´s, empresa burocratizada em que a figura do Administrador se imporá sobre a do aluno ou o professor, a ilustrar a Universidade dos nossos dias).
7- Podemos sempre actualizar o programa de Gasset – e ele pressupunha uma imagem física do mundo (Física), os termos fundamentais da vida orgânica (Biologia), o processo histórico da espécie humana (História), a estrutura e funcionamento da vida social (Sociologia), o plano do Universo (Filosofia) – mas do que certamente precisamos de fixar dele é esta ideia da cultura como o sistema vital de ideias de cada tempo, reportório de convicções que deve dirigir efectivamente a existência de cada homem e lhe permite estar à altura dos tempos, algo para o qual a universidade é (era) fundamental. Sem este reportório actualizado, estaríamos certamente amputados, mais pobres, menos livres, mais manipuláveis, sem podermos fazer uso devido da cidadania que nos incumbe mesmo, ou sobretudo, em tempos sombrios como estes – tempos em que a sociedade deve também esperar da universidade um contributo para a tal cultura comum – de referencias éticas e estéticas, onde a ética, aliás deve ser uma estética, para citar Miguel Veiga – onde consigamos o integrum que impeça parecermos e sermos os cegos a apalpar e definir o elefante-metáfora do mundo complexo em que vivemos e para o qual estamos tantas vezes (intelectualmente) desarmados e perdidos. O contributo da Universidade é, ainda, por esta via, o do uso renovado da razão, da cultura, da inteligência para o renovar, também, da esperança, no – neste – caos.
Pedro Seixas Miranda