A
filosofia alimenta-se da necessidade que o ser humano tem de compreender o
mundo que o rodeia e de identificar princípios para orientar a sua ação. Esta
necessidade ancestral continua a ser premente: cerca de 3000 anos após o
aparecimento desta disciplina na China, no Médio-Oriente e na Grécia Antiga, os
questionamentos levantados pela filosofia não perderam em nada a sua
pertinência e a sua universalidade – muito pelo contrário.
Num
mundo cada vez mais complexo, onde reina a incerteza, onde as evoluções sociais
e as revoluções tecnológicas confundem as referências estabelecidas, onde os
desafios sociais e políticos são imensos, a filosofia continua a ser um recurso
extremamente valioso. É simultaneamente um espaço de retiro e desaceleração e
uma luz suscetível de nos orientar.
A
filosofia ajuda-nos a superar a tirania do instante e a analisar os desafios
que se nos colocam com o necessário distanciamento histórico e rigor
intelectual. Dá-nos as chaves da interpretação e sintetiza, numa linguagem
acessível, saberes fragmentados numa infinidade de áreas: a biologia, a
genética, a informática, as ciências cognitivas, o direito, a economia, as
ciências políticas… Além destes conhecimentos especializados, permite entender
os desafios claramente humanos, os desafios de sentido, de norma.
A
filosofia também nos ajuda a refletir, precisamente, sobre as normas que
sustentam a nossa vida coletiva: ao levantar questões de justiça, de paz, de
ética, de moral. Estas questões são particularmente relevantes na sociedade
atual, onde os progressos alcançados no domínio da inteligência artificial
parecem redefinir as fronteiras do humano.
Por
fim, a filosofia implica uma abordagem e uma atitude específicas: a abertura ao
diálogo e ao intercâmbio de argumentos, a predisposição para acolher o que
parece estranho e diferente, a coragem intelectual de questionar os
estereótipos e de desconstruir os dogmatismos.
Por todas estas razões, a filosofia é um recurso
indispensável para aprendermos a viver juntos e para todas as sociedades livres
e pluralistas – ou que aspiram a sê-lo.
A
UNESCO, cujo mandato está em consonância com a vocação universalista da
filosofia, sempre atribuiu uma atenção particular a esta disciplina. Por este
motivo, a nossa Organização tem a honra de celebrar, uma vez mais, na sua Sede,
em Paris, nos dias 15 e 16 de novembro, o Dia Mundial da Filosofia. Worshops,
mesas redondas e conferências irão animar uma noite e dois dias excecionais
durante os quais os amantes de filosofia, de todas as idades e contextos
culturais, poderão explorar todo o tipo de assuntos e desfrutar do debate de
ideias e da reflexão.
Neste
Dia Mundial da Filosofia, que a célebre frase de Sócrates – “Só sei que nada
sei” – nos incite a avançar alguns passos juntos na vertiginosa imensidão do
conhecimento.
Audrey Azoulay