“A Filosofia
nasceu do nosso assombro pelo mundo e pela nossa existência”. Existem
várias definições de filosofia, mas a de Arthur Schopenhauer, na sua
obra-prima O Mundo como Vontade e Representação, é talvez uma das mais
brilhantes.
A filosofia consistiria assim numa busca perpétua do
questionamento que, em vez de ver o mundo como uma certeza, o vê antes como uma
interrogação. Através do seu gosto por paradoxos, do seu constante
questionamento dos preconceitos, a filosofia é um convite para pensar o mundo
em toda a sua riqueza e complexidade.
Esta habilidade para o assombro remonta a uma tradição
milenar, que surgiu há mais de 3 mil anos na China, no Médio Oriente e na Grécia
Antiga; mas, apesar do seu caráter ancestral, o questionamento filosófico em
nada perdeu a sua atualidade.
Num momento em que o extremismo e a rapidez das
grandes transformações do mundo por vezes nos confundem, a filosofia é
extremamente útil. Permite-nos distanciarmo-nos e, simultaneamente, e vermos
mais além, observarmos o horizonte sem perdermos de vista o presente.
A revolução da inteligência artificial, em particular,
é um terreno propício ao questionamento filosófico. Como conciliar tecnologia e
humanidade? Como garantir uma ética da ciência? Estes questionamentos,
tradicionais no domínio da filosofia ética ou científica, estão a encontrar um
novo eco neste início do século XXI.
A filosofia é uma ferramenta valiosa para
refletirmos sobre a mudança; é também uma abordagem que promove o diálogo e a
tolerância. Ler as obras de Chuang-Tzu, o pai do Taoismo, Nagarjuna, o virtuoso
dialético do Budismo, Avicena, o médico e filósofo, Moisés Maimónides, o
filósofo Talmudista, ou Hannah Arendt e Simone Weil, é tomar consciência da
universalidade dos seus questionamentos e envolver-se num exercício propício à
abertura, à tolerância e in fine à paz entre os povos.
Por todos estes motivos, a UNESCO sempre alentou a
filosofia. A UNESCO é uma instituição que põe em prática um projeto filosófico
– a filosofia dos direitos humanos que foi a de Emmanuel Kant ou de Bernadin de
Saint-Pierre. De certa forma, pode dizer-se que a UNESCO, cujo mandato reflete
a vocação universal da filosofia, é ela própria uma filosofia.
Neste Dia Mundial da Filosofia, a UNESCO convida-vos
também a experimentar este assombro pelo mundo e pelo ambiente, a desmascarar
os dogmas e os preconceitos, em suma, a descobrir a universalidade da condição
humana.