Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


A melhor Entrevista de todos os tempos


            Leonor e Raquel andavam preocupadíssimas, pois não sabiam como realizar o trabalho de português. Depois de lerem muitas revistas e de consultarem imensas fontes, chegaram à conclusão de que não existia nenhum assunto, nem nenhuma personagem que lhes provocasse algum interesse. No meio de tantos papéis e de alguma desilusão, encontraram um anúncio publicado por volta de 1960, que enunciava a existência de uma cadeira mágica capaz de trazer do passado qualquer pessoa. Este assunto agradou-lhes, uma vez que existiam imensas personagens históricas, que continham uma vida muito interessante para ser explorada, Sem mais demoras, saíram as duas juntas, em direção ao Museu Nacional, onde procuraram a cadeira. Depois de tanto procurarem, foram encontrá-la numa sala de arrumos completamente vazia. Rapidamente realizaram todos os procedimentos para voltar a dar vida ao famoso Vasco da Gama (personagem escolhida por elas devido feitos realizados por ele na antiguidade). Após esperarem breves minutos, foram maravilhados com o mágico fenómeno que ocorria mesmo ali, à frente dos seus olhos. Não tiveram tempo para contemplar a imagem que estava diante dos seus olhos, pois ouviram-se passos no corredor. Pegaram em Vasco da Gama e fugiram pela porta das traseiras apanhando o primeiro táxi que apareceu. Foi no táxi que começou o trabalho destas duas raparigas. Começaram por lhe explicar tudo o que aconteceu e depois partiram para a entrevista. Começaram por lhe perguntar:

Entrevistadoras (LR): O que o levou no passado a embarcar na viagem à Índia, mesmo sabendo que poderia nunca mais ver a sua família e os seus amigos?

Vasco da Gama (VG): Eu desde pequeno que sou muito aventureiro, e quando surgiu a oportunidade de realizar aquela viagem, aceitei logo, pois fascinava-me o facto de ser o primeiro a chegar à Índia por via marítima e o facto de ir também conhecer um novo país. Só depois de entrar no barco é que me apercebi do que ia deixar para trás, o que me deixou bastantes remorsos, sabia que poderia não voltar o que me levou a despedir de todos os meus amigos e de toda a minha família como se fosse a última vez que os visse. Custou-me muito, admito, mas naquele momento a aventura e o mar sobrepunham-se a tudo.

LR: A viagem demorou muitos meses. O que é que o marcou de forma negativa esta viagem?

VG: O que me marcou negativamente durante a viagem foram as inúmeras tempestades que ocorreram durante as noites de luar, enquanto navegávamos. A pior tempestade ocorreu quando tentávamos ultrapassar o Cabo Bojador, é uma zona muito complicada pois é onde ocorre a junção de dois oceanos. Nessa noite receei por todas as vidas que se encontraram naquele navio. As ondas eram gigantescas e, à medida que cada uma se aproximava, as nossas pernas tremiam e o nosso coração gelava. Víamos as nossas vidas a passar à frente como uma tentativa de relembrarmos todos os momentos bons que acontecem. Foi a pior noite que eu passei em toda a minha vida.

LR: Imagino que também tenham ocorrido muitos momentos bons. Qual foi o melhor?

VG: O melhor momento da viagem foi quando paramos em Melinde, uma pequena localidade que se localiza em África. Nessa terra tive a oportunidade de encher todos os depósitos do navio e de contar todos os acontecimentos que se passaram em Portugal. Pude relembrar todos os atos heróicos cometidos pelos portugueses e de salientar todas as nossas conquistas aos Mouros. Quando pisei Melinde fiquei um pouco aliviado, pois era a primeira vez que colocava o “pé em terra firme”, depois daquela aterradora tempestade.

LR: Durante o dia, quando não tinham nada para fazer, como ocupavam os seus tempos-mortos?

VG: Para ocuparmos os nossos tempos livres, por vezes fazíamos festas, onde vestíamos os nossos melhores trajes e nos reuníamos todos à volta do convés, para jogar, cantar, dançar e até contar anedotas e fazer adivinhas. No entanto, eu aproveitava esses momentos para repousar no meu camarote onde uma vez por semana escrevia uma carta à minha família onde contava tudo o que acontecia e onde expressava claramente as saudades que tinha deles. Essas cartas nunca foram entregues, pois por vergonha ou medo, não sei, nunca consegui mostrá-las a ninguém. Larguei-as ao sabor do vento quando nos encontrávamos a “planar” sobre as águas límpidas do Índico.

LR: Como fez para suportar as saudades?

VG: Todos os dias sentia saudades, mas isso é natural. Com o tempo fui-me habituando, mas à medida que este ia passando, as saudades tornaram-se um elemento constante no meu pensamento. Chegaram a magoar-me durante algumas noites, pois a ausência da minha família já era tão grande e já se prolongava há tantos meses que parecia que eu estava sozinho no mundo, sem ninguém para me ajudar. A noite era o local mais propício para estes pensamentos, era quando o medo se apoderava de nós, e sombras estranhas invadiram as nossas mentes. Depois de algumas insónias, aprendi a lidar com as saudades, foi nessa altura que comecei a escrever cartas sem remetente.

LR: Depois de tantos meses a lutar contra o mar, para conseguir chegar à Índia, como se sentiu quando colocou os pés nesta terra?

VG: Foi um rodopio de emoções, depois de tantos meses ao relento, quando chegamos sentimo-nos aliviados, pois a nossa missão acabara de ser cumprida.

LR: A nossa missão também já está cumprida. Pedimos-lhe desculpa pelo transtorno da viagem que foi abrigado a realizar, mas a sua presença era mesmo necessária. Obrigada.

VG: Posso pedir-vos um favor? Podem devolver-me ao meu tempo se faz favor.

LR: Claro que sim. Vamos já tratar disso. Senhor taxista leve-nos por favor ao Museu da Ciência.

Quando Vasco da Gama se sentou na cadeira, Raquel e Leonor olharam uma para a outra, pois viram que ainda existia tempo para mais uma pergunta.


LR: Podemos fazer-lhe uma última pergunta? O que achou deste novo Portugal? É melhor ou pior do que o antigo?

VG: Não trocava o meu Portugal por este, acho que no outro Portugal as pessoas não andavam com tanta pressa e tinha tempo para viver todas as emoções. Pelo que vi pela janela do táxi, as pessoas estão tão atarefadas que nem se preocupam com quem está ao lado, por isso preferia viver no meu tempo.    

LR: Mais uma vez obrigada.

Raquel e Leonor foram-se embora do Museu e regressaram à escola onde finalmente puderam entregar o trabalho de português.     

Inês nº14
Joana nº15
10ºA
       

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