A melhor Entrevista de
todos os tempos
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Entrevistadoras
(LR): O que o levou no passado a embarcar na viagem à
Índia, mesmo sabendo que poderia nunca mais ver a sua família e os seus amigos?
Vasco
da Gama (VG): Eu desde pequeno que sou muito
aventureiro, e quando surgiu a oportunidade de realizar aquela viagem, aceitei
logo, pois fascinava-me o facto de ser o primeiro a chegar à Índia por via
marítima e o facto de ir também conhecer um novo país. Só depois de entrar no
barco é que me apercebi do que ia deixar para trás, o que me deixou bastantes
remorsos, sabia que poderia não voltar o que me levou a despedir de todos os
meus amigos e de toda a minha família como se fosse a última vez que os visse.
Custou-me muito, admito, mas naquele momento a aventura e o mar sobrepunham-se
a tudo.
LR:
A viagem demorou muitos meses. O que é que o marcou de forma negativa esta
viagem?
VG:
O que me marcou negativamente durante a viagem foram as inúmeras tempestades
que ocorreram durante as noites de luar, enquanto navegávamos. A pior
tempestade ocorreu quando tentávamos ultrapassar o Cabo Bojador, é uma zona
muito complicada pois é onde ocorre a junção de dois oceanos. Nessa noite
receei por todas as vidas que se encontraram naquele navio. As ondas eram
gigantescas e, à medida que cada uma se aproximava, as nossas pernas tremiam e
o nosso coração gelava. Víamos as nossas vidas a passar à frente como uma
tentativa de relembrarmos todos os momentos bons que acontecem. Foi a pior
noite que eu passei em toda a minha vida.
LR:
Imagino que também tenham ocorrido muitos momentos bons. Qual foi o melhor?
VG:
O melhor momento da viagem foi quando paramos em Melinde, uma pequena
localidade que se localiza em África. Nessa terra tive a oportunidade de encher
todos os depósitos do navio e de contar todos os acontecimentos que se passaram
em Portugal. Pude relembrar todos os atos heróicos cometidos pelos portugueses
e de salientar todas as nossas conquistas aos Mouros. Quando pisei Melinde
fiquei um pouco aliviado, pois era a primeira vez que colocava o “pé em terra
firme”, depois daquela aterradora tempestade.
LR:
Durante o dia, quando não tinham nada para fazer, como ocupavam os seus
tempos-mortos?
VG:
Para ocuparmos os nossos tempos livres, por vezes fazíamos festas, onde
vestíamos os nossos melhores trajes e nos reuníamos todos à volta do convés,
para jogar, cantar, dançar e até contar anedotas e fazer adivinhas. No entanto,
eu aproveitava esses momentos para repousar no meu camarote onde uma vez por
semana escrevia uma carta à minha família onde contava tudo o que acontecia e
onde expressava claramente as saudades que tinha deles. Essas cartas nunca foram
entregues, pois por vergonha ou medo, não sei, nunca consegui mostrá-las a
ninguém. Larguei-as ao sabor do vento quando nos encontrávamos a “planar” sobre
as águas límpidas do Índico.
LR:
Como fez para suportar as saudades?
VG:
Todos os dias sentia saudades, mas isso é natural. Com o tempo fui-me
habituando, mas à medida que este ia passando, as saudades tornaram-se um
elemento constante no meu pensamento. Chegaram a magoar-me durante algumas
noites, pois a ausência da minha família já era tão grande e já se prolongava
há tantos meses que parecia que eu estava sozinho no mundo, sem ninguém para me
ajudar. A noite era o local mais propício para estes pensamentos, era quando o
medo se apoderava de nós, e sombras estranhas invadiram as nossas mentes. Depois
de algumas insónias, aprendi a lidar com as saudades, foi nessa altura que
comecei a escrever cartas sem remetente.
LR:
Depois de tantos meses a lutar contra o mar, para conseguir chegar à Índia,
como se sentiu quando colocou os pés nesta terra?
VG:
Foi um rodopio de emoções, depois de tantos meses ao relento, quando chegamos
sentimo-nos aliviados, pois a nossa missão acabara de ser cumprida.
LR:
A nossa missão também já está cumprida. Pedimos-lhe desculpa pelo transtorno da
viagem que foi abrigado a realizar, mas a sua presença era mesmo necessária.
Obrigada.
VG:
Posso pedir-vos um favor? Podem devolver-me ao meu tempo se faz favor.
LR:
Claro que sim. Vamos já tratar disso. Senhor taxista leve-nos por favor ao
Museu da Ciência.
Quando Vasco da Gama se
sentou na cadeira, Raquel e Leonor olharam uma para a outra, pois viram que
ainda existia tempo para mais uma pergunta.
LR:
Podemos fazer-lhe uma última pergunta? O que achou deste novo Portugal? É
melhor ou pior do que o antigo?
VG:
Não trocava o meu Portugal por este, acho que no outro Portugal as pessoas não
andavam com tanta pressa e tinha tempo para viver todas as emoções. Pelo que vi
pela janela do táxi, as pessoas estão tão atarefadas que nem se preocupam com
quem está ao lado, por isso preferia viver no meu tempo.
LR:
Mais uma vez obrigada.
Raquel e Leonor
foram-se embora do Museu e regressaram à escola onde finalmente puderam
entregar o trabalho de português.
Inês nº14
Joana nº1510ºA
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