Passarinho
o que tens? Desculpa, não te entendo, pareces triste, e apetece-me chorar ao
ver-te assim… o que tens? Sabes, passarinho, sinto-me sozinha…Porque será?
Sinto-me tão sozinha! As lágrimas não me caem no
rosto, o meu cabelo foge-me, ajudado pelo vento, eu toco nas tuas penas e elas
ficam pretas, porque será passarinho? A paz já não ronda na tua gaiola… quem te prendeu? Quem te amarrou com as
correntes do desgosto e do sofrimento? O teu sangue é o gelado Inverno, e os
teus olhos são negros, sem luz nem reflexo. Porque me sinto sozinha, meu
querido passarinho? Sabes, tenho medo…Tenho medo das sombras malignas que
passam por este muro… Estou aqui há tanto tempo que as raízes daquela pobre
árvore me prenderam a este canto, tenho medo passarinho! E se as sombras me quiserem comer? O teu canto é
triste e agonizante… Será, passarinho, que te sentes como eu, na tua gaiola
enferrujada? Tenho medo, muito medo das portas e das chaves: para onde me
levarão? Para a morte?
Passarinho, eu sei que estou a ser egoísta,
mas se te soltar irei ficar sozinha, neste beco escuro, a ver a lua a rir-se de
mim, e a luz a ir-se embora para nunca mais voltar. Será que te devo soltar, ou
não? Que triste, que arrepiante… Se, ao menos, tivesse asas para voar contigo!…
Adeus, meu amado passarinho, adeus…
(E assim ele foi embora e
levou consigo a minha solitária alma…)
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