Há cerca de
uma semana fui tomar café com um amigo que já não via há muito, muito tempo.
Esse meu amigo é um grande artista, é escultor. Assim, depois do café, fomos
ver a nova exposição do Museu de Arte Contemporânea.
Logo à entrada
estava uma escultura de chapa vermelha de grandes dimensões; percebi que era
uma interpretação da forma humana e achei piada; acerca desta obra consegui
mesmo conversar com o meu amigo. Os nossos bilhetes também eram engraçados;
muito coloridos e o tipo de letra simples combinava realmente na perfeição. Na
primeira sala estavam telas gigantescas coloridas com vários tipos de tinta:
acrílico, carapinha e até aquela tinta usada para pintar as estradas. Eu gostei
bastante de alguns quadros, pelas suas cores ou porque me sugeriam algo, apesar
de na prática serem apenas tiras horizontais e verticais sobrepostas. Lembro-me
de um que detestei mesmo, por não simpatizar de todo com a combinação de cores.
Mas naquela sala, sem dúvida, havia arte. Foi quando passámos à sala seguinte
que as minhas ideias se começaram, de certo modo, a confundir. Começava com um
tricô gigantesco e quadrado de caniça em vermelho encaixilhado e depois
passava-se abruptamente às cores neutras. Diante dos meus olhos estava “uma
obra de arte”... Eram quatro panelas de pressão numa prateleira saliente da
parede à esquerda de uma mais elevada que suportava quatro bolas de
basquetebol. Tive que perguntar ao meu amigo, que até então não tinha
pronunciado uma palavra e estava completamente absorvido, que raio de coisa era
aquela. E aí percebi que eu era um doutor insensível... conservador e
preconceituoso...O meu amigo artista interpretou aquela obra. O trabalho da
mulher (as panelas de pressão) tem menos relevância que o divertimento do homem
(simbolizado pelas bolas de basquetebol). Seguiu-se a isto uma tela branca com
um círculo azul pintado no centro. E uma tela branca com um círculo cor-de-rosa
pintado no centro. E uma tela branca com dois círculos amarelos pintados no
centro. E uma tela branca. Ainda me esforcei por tentar interpretar... Não
perguntei nada ao meu amigo e vim para casa pensar no assunto, rever o conceito
de arte. Comecei por ler que ‘arte’ “tem como raiz etimológica a palavra grega
techne e o conceito latino ars, que designam a técnica, a perícia, assim como a
criação artística, a procura do belo” - então dois círculos pintados num
amarelo que nem era nada de especial no centro de uma tela branca não são arte,
uma vez que o artista não atingiu o belo... Depois li que “a arte contemporânea
alterou a visão tradicional do belo e do feio, diluiu as fronteiras e as
definições”, que “esta indeterminação abriu as portas ao diálogo e à convivência
entre perspetivas consideradas incompatíveis, transformando a arte num
território de absoluta liberdade”. Por fim li a teoria formalista, que “abandona
a ideia de que há uma característica comum às diferentes formas de arte. Nelas
existe, ao invés, uma característica que marca todas as experiências
artísticas: a emoção estética”. “Uma obra é arte se, e só se, provocar emoções
estéticas”. Clive Bell, o crítico de arte inglês, era um grande defensor desta
teoria. Bell propõe que “é relevante apenas o objeto para avaliar se este é uma
obra de arte ou se é esteticamente valioso”. Por exemplo, o motivo de uma
pintura é irrelevante para a avaliar esteticamente. Também a contextualização
histórica ou o conhecimento da intenção do artista são irrelevantes para a
apreciação nas artes visuais, para Bell e para mim. Afinal, penso também que “o
que provoca emoção estética é a articulação feita pelo artista das formas, das linhas
e das cores, e não a temática por si escolhida”.
Quanto aos
quadros dos círculos, não gosto muito deles.
Nota:
as citações foram retiradas de Amorim, C. e C. Pires (2013), Clube das Ideias,
Filosofia 10º ano, ensino secundário. Areal Editores, Porto.
15.11.2013
Mafalda
Azevedo Perdicoúlis
Nº
20 . 10ºB
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