Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Arte contemporânea

Há cerca de uma semana fui tomar café com um amigo que já não via há muito, muito tempo. Esse meu amigo é um grande artista, é escultor. Assim, depois do café, fomos ver a nova exposição do Museu de Arte Contemporânea.
Logo à entrada estava uma escultura de chapa vermelha de grandes dimensões; percebi que era uma interpretação da forma humana e achei piada; acerca desta obra consegui mesmo conversar com o meu amigo. Os nossos bilhetes também eram engraçados; muito coloridos e o tipo de letra simples combinava realmente na perfeição. Na primeira sala estavam telas gigantescas coloridas com vários tipos de tinta: acrílico, carapinha e até aquela tinta usada para pintar as estradas. Eu gostei bastante de alguns quadros, pelas suas cores ou porque me sugeriam algo, apesar de na prática serem apenas tiras horizontais e verticais sobrepostas. Lembro-me de um que detestei mesmo, por não simpatizar de todo com a combinação de cores. Mas naquela sala, sem dúvida, havia arte. Foi quando passámos à sala seguinte que as minhas ideias se começaram, de certo modo, a confundir. Começava com um tricô gigantesco e quadrado de caniça em vermelho encaixilhado e depois passava-se abruptamente às cores neutras. Diante dos meus olhos estava “uma obra de arte”... Eram quatro panelas de pressão numa prateleira saliente da parede à esquerda de uma mais elevada que suportava quatro bolas de basquetebol. Tive que perguntar ao meu amigo, que até então não tinha pronunciado uma palavra e estava completamente absorvido, que raio de coisa era aquela. E aí percebi que eu era um doutor insensível... conservador e preconceituoso...O meu amigo artista interpretou aquela obra. O trabalho da mulher (as panelas de pressão) tem menos relevância que o divertimento do homem (simbolizado pelas bolas de basquetebol). Seguiu-se a isto uma tela branca com um círculo azul pintado no centro. E uma tela branca com um círculo cor-de-rosa pintado no centro. E uma tela branca com dois círculos amarelos pintados no centro. E uma tela branca. Ainda me esforcei por tentar interpretar... Não perguntei nada ao meu amigo e vim para casa pensar no assunto, rever o conceito de arte. Comecei por ler que ‘arte’ “tem como raiz etimológica a palavra grega techne e o conceito latino ars, que designam a técnica, a perícia, assim como a criação artística, a procura do belo” - então dois círculos pintados num amarelo que nem era nada de especial no centro de uma tela branca não são arte, uma vez que o artista não atingiu o belo... Depois li que “a arte contemporânea alterou a visão tradicional do belo e do feio, diluiu as fronteiras e as definições”, que “esta indeterminação abriu as portas ao diálogo e à convivência entre perspetivas consideradas incompatíveis, transformando a arte num território de absoluta liberdade”. Por fim li a teoria formalista, que “abandona a ideia de que há uma característica comum às diferentes formas de arte. Nelas existe, ao invés, uma característica que marca todas as experiências artísticas: a emoção estética”. “Uma obra é arte se, e só se, provocar emoções estéticas”. Clive Bell, o crítico de arte inglês, era um grande defensor desta teoria. Bell propõe que “é relevante apenas o objeto para avaliar se este é uma obra de arte ou se é esteticamente valioso”. Por exemplo, o motivo de uma pintura é irrelevante para a avaliar esteticamente. Também a contextualização histórica ou o conhecimento da intenção do artista são irrelevantes para a apreciação nas artes visuais, para Bell e para mim. Afinal, penso também que “o que provoca emoção estética é a articulação feita pelo artista das formas, das linhas e das cores, e não a temática por si escolhida”.
Quanto aos quadros dos círculos, não gosto muito deles.

Nota: as citações foram retiradas de Amorim, C. e C. Pires (2013), Clube das Ideias, Filosofia 10º ano, ensino secundário. Areal Editores, Porto.

15.11.2013
Mafalda Azevedo Perdicoúlis

Nº 20 . 10ºB

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