Parece-me agora tão ridículo, tão insensato, aquilo
que outrora fora tão eletrizante, tão certo ou talvez tão errado, mas tão bom,
tão, tão revitalizante!...
A minha mãe, aquela pobre criatura submissa, sempre
tão compreensiva, tão tolerante, tão boa cozinheira, tão boa mãe, tão boa
esposa, tão boa amante… Hum, pobre velha, mal sabia ela que o sorriso de
satisfação que o amante revelava, depois do breve e desencantado sexo, era
dirigido a mim, provocado por mim e só em mim ele pensava e era a mim que ele
amava porque, antes de ter estado no meio das pernas dela, tinha estado no meio
das minhas…
Imagino como seriam as coisas se o pai ainda estivesse
connosco: as férias na casa da praia, as viagens a Marrocos e os passeios pelo
lago, tudo isso manter-se-ia, porém, tudo se revelou finito e irreversível. Por
culpa dela, foi ela quem o matou por falta de amor, de atenção e de compaixão.
Com o pai prostrado no leito, a noite
foi o marido da velhaca, da minha desgraçada mãe, que, durante aquele meio ano
interminável, viu a alma sugada pelas drogas e pelos velhacos que a penetravam,
cegos pelo álcool e pelo fracasso de suas vidas… Depois, depois, fez-se de
viúva abandonada e desolada pela perda “do seu melhor amigo, do seu amante, do
grande amor da sua vida” - dizia. Não! Não passaste de uma prostituta com uma
filha negligenciada e um marido doente em casa.
E por isso mereceste e ainda agora, a apodreceres na
cama de hospital, mereces! Sabe que o teu eterno amante nunca te amou!!! Amava-me
a mim e eu fazia dele o que queria, porque corre-me nas veias o mesmo veneno
que te consome.
Queres
saber uma coisa? Não me arrependo.
Maria Fernandes, n.º 18
10º E
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