Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Diário de bordo


 Cabo das Tormentas, 6 dias após a partida da Baía de Santa Helena



Meu caro diário,



Não sei como te conte o que assisti na última noite. Sem dúvida, foi um momento assustador para todos nós! Juro-te por Deus que não é alucinação minha!

Portanto, como devo começar? Ah! Já sei! Tinham já passado cinco sóis desde a nossa partida da Baía de Santa Helena – um lugar bastante interessante, mas isso fica para outro dia! Parámos lá para nos abastecermos de água potável e de outros mantimentos, pois estávamos quase a desidratar e cheios de fome. Estava exausto, visto que passara o dia inteiro a limpar o convés e assumi o comando do leme, juntamente com o nosso valente capitão e outro marujo. Quando, por fim, o Sol se escondeu, acabei por adormecer encostado a um a barril.

De repente, acordei com o marujo Nando a chamar-me e, como é obvio, assustei-me, ainda que um pouco inconsciente. Os meus olhos olharam para a frente, e viram todos os marinheiros a andar de um lado para o outro, descontrolados. Somente Vasco da Gama estava no leme, parado, olhando para cima, estupefacto com a gigantesca nuvem negra que se ia estabelecendo sobre as nossas cabeças. Levantei-me de imediato e só o ouvi a questionar-se sobre o fenómeno que ali acontecia.

Subitamente, aparece-nos uma figura feia, grande e com uma voz grossa e horrenda, que nos fez arrepiar de medo. Porém, o capitão, com a colaboração de todos nós, enfrentou aquele mistério de mostrengo que ali surgiu e conseguimos, felizmente, ultrapassar o nosso pior momento neste barco até agora, com a nossa grande coragem, apesar dos longos tempos em que aqui temos estado. Foi verdadeiramente algo difícil de explicar e diferente de tudo o que eu já tinha visto! Estava tão confuso que aquilo parecia fantasia! Mas não era!

Finalmente, tive força, vontade e tempo para te contar este sucedido, que ficará para sempre na minha memória e, com certeza, deverá ajudar-me a tomar outra atitude numa próxima vez, caso haja!

Obrigado por me ouvires,



Marinheiro Luís

Tomás Cardoso, nº 26, 9º E 






20 de outubro de 1497

Querida Mariana,



Já devem ter passado entre 4 a 5 dias desde que partimos de Baía de Santa Helena... Por agora está tudo bem, tirando o facto de não conseguir parar de pensar em voltar a ver teus olhos e sorriso... Admito que ultimamente penso muito em ti, no quanto querias embarcar e ver o mundo, portanto comprei este diário em Santa Helena, para que te possa retratar a vida em alto mar.

Para dizer a verdade, a vida aqui é horrível: todos os dias acordo coberto de sal, muitos dos nossos amigos adoeceram e o balançar das naus dá cá uma vontade de vomitar! O pior é quando chega uma tempestade, e temos que nos amarrar uns aos outros para não escorregarmos! Ah, e existe água, água por todo o lado e nenhuma gota para beber!

Algum dia me imaginaste, a mim, o teu rapaz de Trás-os-Montes, como o braço direito do capitão de um navio? Pois bem, eu não, mas visto que sou daqueles que melhor se aguentam em alto mar, o senhor Vasco da Gama conta comigo. Espera: tenho que ver o que se passa, o mar está a ficar atribulado...







22 de outubro de 1497


Ele já se foi, mas ainda tremo só de pensar... No outro dia, parei de escrever porque conheci o meu maior pesadelo. Chamam-lhe Adamastor e é simplesmente a personificação do Cabo das Tormentas!

Apareceu de noite, quando nenhum de nós esperava, com uma voz grave como o mar, os seus cabelos eram raízes e todo ele era rochedo! Quando o viu, o capitão, que cada vez admiro mais, não temeu e perguntou-lhe quem era. Na minha opinião, foi esta pergunta que nos fez sobreviver. O monstro elogiou a nossa ambição, mas acabou por nos rogar as mais terríveis pragas! Agora que penso nisso, até se assemelha ao velho do Restelo...

Apesar de ter o poder de nos matar a todos, o monstro limitou-se a responder à pergunta do capitão, revelando que foi vítima do amor cruel... depois disso, até comecei a simpatizar com ele. Esquece! Ele era tão aterrorizador que isso era impossível! Seguidamente, o monstro desapareceu, deixando as embarcações devastadas... Agora, muitos dos marinheiros não falam, e o Nando ainda treme...

Estão a chamar por mim…

Sempre teu,

Toni

Mariana Costa, nº 17, 9º E




Belém, 8 de julho de 1497
Já acordado pela húmida manhã, olhava pela janela pensando se estaria certo partir com a possibilidade de não voltar.
Chegado ao porto de Lisboa, vi um alvoroço enorme, cheio de lágrimas por aqueles que partiam.
O meu amor, no meio de todo o sofrimento, mágoa e profunda dor, chorava por mim como se me estivessem a empurrar para o abismo. O seu olhar lindo mas revolto por me ver ir é algo que nunca me irá escapar da memória. E estariam certos? Estaria eu destinado a morrer no mar como um peixe perdido em mares nunca outrora navegados?
Tudo isto não importa, a mágoa fica por deixar em terra quem me ame, mas a minha decisão não muda.
A hora chegou, tínhamos de embarcar, algo grandioso nos esperava e eu, correndo por entre a tripulação, procurava em terra um beijo perdido do meu amor que ficará guardado em meu coração para sempre.
Porém, muitas tempestades ainda iria eu arrostar, ondas insofridas por ultrapassar, revoltos ventos e tormentos por enfrentar, mas nada disto me fez arrepender da minha decisão pois uma força maior me empurrava para seguir em frente.
Aqui na nau as tarefas são divididas por toda a gente, hoje fiquei com a função de limpar o convés enquanto reparava na imensidão que nos rodeava e no meu capitão e seu irmão que planeavam nossa rota.
Fui chamado várias vezes à atenção por estar distraído - «Reis, acorda, rapaz! Ata essa corda!» - e parar as minhas funções a meio, apenas para ficar a olhar, a contemplar a imensidão azul. O mundo fascina-me demasiado.
Não consigo prever o futuro, mas se morrer nesta viagem, só espero que as falésias e o mar lá estejam para me guardarem em sua memória. 
Bom, amanhã será outro dia, agora vou jantar com o resto da  tripulação.                                                          
Ana Reis, nº 4 – 9º H


8 de julho de 1497, Lisboa

            Depois de uma longa semana de viagem desde Pomarelhos até Lisboa, pensei na despedida. Não sei se essa despedida me convenceu a ficar ou a ir. Provavelmente a ir, visto já estar na capital, mas não sei se fico por aqui e volto para a aldeia ou se vou mesmo. A minha decisão não é final devido ao caos emocional presente no meu interior.

            “Ribeiro, tem cuidado com os enjoos. Ribeiro, não te esqueças da merenda para a viagem. Ribeiro…” todos estes avisos foram proferidos pela minha avó com o possível objetivo de me fazer perder a carroça que me transportaria até à capital. Mas, a despedida com o meu pai, a minha mãe e a minha avó, família que não esquecerei por me acolher desde que nasci, me acalmou quando necessitava. Não quero pensar nos abraços desesperados, nos choros aflitos da parte da minha progenitora, do engasgamento presente nas palavras proferidas por meu pai e, sobretudo, na tristeza na face da minha avó que possivelmente não me verá mais.

Tudo isto abandonei por uma causa importante: a viagem por mar até às Índias, onde existem riquezas mil. Acabei de decidir: vou-me em viagem. Afinal toda aquela melancolia tem de ter um propósito. Creio que até seria uma desilusão para todas as pessoas da minha terra se regressasse!



9 de julho de 1497, Alto Mar

            Hoje conheci muita gente importante: Vasco da Gama, o capitão, o seu irmão Paulo da Gama e, ao longe, ontem, tinha visto el-Rei D. Manuel I. É de facto uma honra.

No entanto não é só de honras que é feita esta viagem: primeiramente (des)gostaria de lembrar a quantidade de vezes que vomitei durante o dia de hoje devido à falta de habituação à navegação no alto mar. Acredito que o mar até elevou a sua altitude por causa da quantidade de gente que vomitou naqueles primeiros momentos.

Depois de as pessoas se acalmarem, passámos a uma pequena missa para que Deus nos ajudasse durante a jornada. Mas, eis senão quando, na parte da comunhão o vinho faltou. O que é certo é que antes do evento, assistimos à queda de um dos marujos da caravela. Acredito que seja apenas uma coincidência ou um sinal de que Deus está connosco (e com o vinho também).

O que quero neste momento é imaginar as nossas peripécias, a quantidade de monstros que vamos enfrentar, as novas pessoas que vamos conhecer e a quantidade de riquezas que vamos acumular.

            Algo que eu não mencionei é o nome que os meus companheiros me deram: o Poma. É uma alcunha engraçada que ainda vai ficar conhecida das gentes da minha aldeia.

José Francisco Ribeiro, nº 9 - 9.º H



1 comentário:

Unknown disse...

Estes textos, entre ouros, foram escritos pelos alunos das turmas E e H do nono ano, na disciplina de Português, no âmbito do estudo de «Os Lusíadas». Foi-lhes pedido que vestissem a pele de um dos marinheiros da armada de Vasco da Gama e imaginassem uma página do diário desse marinheiro. Os alunos estão todos de parabéns como se pode ver por esta amostra.