Todos os anos, entre o final de maio e
o princípio de junho, a UNESCO celebra três dias internacionais importantes que
representam uma oportunidade para refletirmos juntos sobre os três pilares
sistémicos das alterações climáticas: a biodiversidade, o ambiente e os
oceanos.
O dia 5 de junho é uma oportunidade
para celebrarmos o ambiente, para nos lembrarmos que é um todo, um sistema
complexo em que interagem o clima, os oceanos, a diversidade dos seres vivos e
dos meios envolventes, por vezes de uma forma que vai além da nossa capacidade
de antecipação.
Este ano, no momento em que uma
pandemia sem precedentes atinge o mundo, estes dias ressoam com uma urgência
ainda mais tangível do que antes.
Em menos de um ano, a crise ambiental revelou-se de uma forma espetacular e
preocupante. Enquanto os enormes incêndios que devastaram as florestas
tropicais húmidas, como se de savanas áridas se tratasse, revelaram o
desequilíbrio climático, a pandemia da COVID-19 lança uma luz crua sobre a
crise que afeta a biodiversidade.
Na verdade, esta pandemia foi uma oportunidade para observar o que os
cientistas de todo o mundo têm vindo a dizer há anos: a interdependência entre
a humanidade e a biodiversidade é tão forte que a sua vulnerabilidade é a nossa
fragilidade.
Esta crise sanitária é um aviso que
temos de ouvir coletivamente: chegou o momento de repensarmos completamente a
nossa relação com os seres vivos, com os ecossistemas naturais e com a sua
diversidade biológica.
A construção conjunta de um novo pacto
com os seres vivos e com o mundo é uma tarefa imensa, que exigirá um amplo
consenso, tanto técnico como ético.
A UNESCO é um dos locais onde este
consenso pode ser alcançado.
De facto, a UNESCO tem de oferecer uma vocação e uma capacidade de
aproximação, de diálogo, que tem estado no âmago da sua missão desde a sua
criação. A refundação da nossa relação com os seres vivos só pode ser
conseguida coletivamente, através do diálogo e do intercâmbio. Enquanto agência
intelectual e normativa, "a consciência das Nações Unidas", como lhe
chamou um dos seus ilustres fundadores, Léon Blum, a
UNESCO é, sem dúvida, um dos locais onde esta conversa mundial pode ter lugar.
A nossa Organização tem também de oferecer a sua experiência: através do
seu Programa O Homem e a Biosfera, a UNESCO pode, de facto, apoiar-se em redes
e sítios que testemunham o facto de já ser possível viver em harmonia, em
conjunto com a natureza, em ecossistemas regenerados e preservados para que
possam ser transmitidos às gerações futuras.
Por último, a UNESCO pode trazer para o primeiro plano as suas competências
especializadas, nomeadamente no domínio da educação, já que a educação
ambiental é decisiva para esta refundação. Estar mais atento, mais sensível,
mais recetivo ao mundo vivo e à sua extraordinária riqueza, ser capaz de
admiração e humildade, compreender a sua responsabilidade e perceber o que pode
ser feito na prática - tudo isto pode ser aprendido.
Neste Dia Mundial do Ambiente, que este ano celebra a biodiversidade,
recordemos que é "nas nossas mãos que está agora não só o nosso próprio
futuro, mas o de todos os outros seres vivos com quem partilhamos a
terra", como escreve o jornalista David Attenborough, que
dedicou parte da sua vida a dar voz à beleza e diversidade da vida.
Mensagem de Audrey Azoulay,
Diretora-Geral da UNESCO
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