DEZ HORAS DA MANHÃ DE UM SÁBADO CHEIO DE PLANOS
Já o sol cinzelava a copa de frondosas e rumorejantes árvores, e o verde se esbatia em todas as cores, memórias de outro tempo; já a luz, em poalha de oiro, se espelhava na água ainda adormecida do rio, que regurgitava alegremente nos regatos e cantarolava no ribeiro da Quinta dos Poetas, onde uma enorme variedade e variabilidade de árvores, arbustos e flores do mais requintado e fino calibre, em magistral jogo de tamanho, cor, textura e crescimento evocavam um quadro bucólico, através da recriação nostálgica de um tempo de simplicidade e pureza, da vida no campo, ideal de “aurea mediocritas,” desta vez bem encarnado na pessoa de Maria José, uma formanda de bem com a sua profissão, viveirista e, naturalmente com a vida, pelo entusiasmo que empresta ao seu discurso, manifesto de verdadeiro sucesso e prova de que os percursos individuais são afectados pelas condições culturais, sociais e económicas. Dez horas da manhã, sábado, dia mundial da biodiversidade; foi neste agradável contexto que se inscreveu a visita ao viveiro da Quinta dos Poetas, actividade do curso NOVAS OPORTUNIDADES, EFA C7, DA ESCOLA SECUNDÁRIA CAMILO CASTELO BRANCO. Formadores e formandos, numa extensa área de 5 a 6 hectares de terreno, em que as árvores vestiram o papel de protagonistas, assistiram a uma natural e bem contextualizada explicação sobre a poda, a fecundação, a rega, o envasamento, e a sementeira; reutilizar, equilíbrio sustentável, realização profissional, liberdade, natureza, foram temas que ali ganharam visibilidade, realçados pelo emocionante tributo dos formandos, dando sugestões para uma melhor e mais justa distribuição de riquezas, respeito pelo meio ambiente, preservação de espécies, perante a impassibilidade e imperturbabilidade de imponente vegetação.
Se a expressão ensino/aprendizagem parece não ser a medula central desta actividade, não deixou, contudo, de marcar presença e até com grande impacto na motivação,na abordagem eminentemente séria e promovendo uma interessante intertextualidade no domínio da Literatura,da Física, da Botânica e de tantos outros saberes, num ambiente de à vontade e especialmente de encantamento, manifestado desta forma, tão sentida:
«É uma maravilha, acordar e ouvir os passarinhos!»
E todo este sonho se deve à iniciativa de uma jovem;ao seu apego à terra; à vontade de ser autónoma, profissionalmente, apesar de toda as vicissitudes que possam surgir.
Há que ser persistente e investir na concretização dos objectivos.
Vila Real, 22 de Maio de 2010
Texto: Arinda Andrés
Sem comentários:
Enviar um comentário