Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Exercício físico, um benefício essencial para o nosso bem-estar

Entrevista com a nutricionista Libânia Braga

O nosso corpo é uma máquina que precisa gerar a energia necessária à realização das nossas actividades. Sendo assim, é indispensável que o “combustível”, neste caso a alimentação, seja adequado. Se utilizarmos alimentos inadequados ou de maneira errada, o rendimento baixa e o nosso desempenho fica comprometido.
Para tentar conhecer os perigos de uma má alimentação, em especial por parte dos jovens, os métodos e procedimentos utilizados numa avaliação de diagnóstico, o conceito de alimentação saudável e as relações entre desporto e nutrição, fomos entrevistar uma nutricionista. A pessoa entrevistada chama-se Libânia Raquel Gonçalves Braga, é Dietista, formou-se na Escola Superior de Saúde Jean Piaget e exerce profissão na DREN há um ano, fazendo o acompanhamento, em termos nutricionais, da Escola Secundária Henrique Medina e do Agrupamento de Escola das Marinhas, em Esposende.


Grupo Três - Um das profissões mais faladas nos nossos dias é a de nutricionista. Quais são exactamente as funções e o âmbito de actuação de um nutricionista?

Libânia Raquel
- O Nutricionista/Dietista é um profissional de saúde, cujo objectivo essencial consiste na aplicação das ciências da nutrição no tratamento de doenças e na promoção da saúde, a nível individual e colectivo. Na sua prática, o Dietista pode assumir diferentes funções, em três grandes áreas de intervenção. Na Área Clínica, é responsável pela avaliação nutricional, pela determinação das necessidades nutricionais, pela planificação e supervisão de planos alimentares, pelo aconselhamento nutricional, em consulta ou durante o internamento; neste âmbito, colabora com equipas multidisciplinares de saúde na definição de protocolos e estratégias que promovam a recuperação/melhoria na saúde nutricional e funcional dos doentes.
Na Área Comunitária ou de Saúde Pública, está directamente envolvido na promoção da saúde e na prevenção da doença, mediante o estabelecimento de políticas que conduzam à promoção de hábitos alimentares saudáveis, tendo em vista a saúde nutricional das populações. Finalmente, na Área de Restauração Pública e Colectiva, é responsável pela organização e gestão de serviços de nutrição e dietética em instituições hospitalares e não hospitalares (empresas, etc.) e intervém na gestão da restauração pública e colectiva, proporcionando refeições de qualidade e equilíbrio nutricional a indivíduos ou grupos. Em suma, o Nutricionista / Dietista aplica os seus conhecimentos e competências profissionais em diversos contextos: promoção da saúde, terapêutica, segurança alimentar, administração e gestão dos serviços de alimentação e dietética.


GT - O nutricionista/dietista é cada vez mais procurado nos dias de hoje. Na sua opinião, e de acordo com a sua experiência profissional, essa procura está associada com a busca da imagem ideal, ou com a prevenção de problemas de saúde?
LR –
Inicialmente, deparei-me com algumas situações em que era apenas por mera questão de visual, pela busca da aparência física “ideal”. Actualmente, embora me continue a deparar com estas motivações, noto que as pessoas procuram um dietista sobretudo por questões de saúde, pois estão cada vez mais alertadas para os problemas de saúde que advêm, por exemplo, da obesidade, e pelo bem-estar físico e mental (“corpo são, mente sã”…).


GT - Ainda de acordo com a sua experiência, quem procura mais as consultas de nutricionismo? Jovens? Adultos? Pessoas de meia-idade? Idosos?
LR -
O meu tempo de experiência nesta área ainda não é muito, mas nas áreas em que trabalhei tenho encontrado um pouco de tudo. Inicialmente, na área da Nutrição Clínica encontrava pessoas de todas as idades - os jovens para manter a forma física, os adultos para perda de peso e prática de vida saudável, e os idosos porque de repente apareceu a Diabetes, o Colesterol ou a Hipertensão e precisam de ajuda para aprenderem a comer e a lidar com estas patologias. Actualmente, como estou na área escolar, apenas os jovens.


GT - Numa primeira consulta, aquando da avaliação de diagnóstico, que procedimentos adopta habitualmente?
LR -
Depende dos casos. Inicialmente faz-se uma pequena entrevista sobre os dados pessoais, os dados socioeconómicos, a história clínica e uma avaliação dietética que consiste em avaliar a história alimentar (recordação das 24 horas anteriores). Posteriormente, faz-se a avaliação antropométrica. Mediante o diagnóstico obtido, processa-se a elaboração do plano alimentar adequado às necessidades nutricionais que cada pessoa exige.


Em alguns casos efectuo apenas uma educação alimentar sem elaboração de um plano alimentar (ex. Anorexia e Bulimia).









GT - O que se entende por “alimentação saudável”?
LR - De uma forma geral, a Roda dos Alimentos ajuda a clarificar esse conceito. Uma alimentação saudável deve ser completa (deve-se comer alimentos de cada grupo e beber água diariamente); equilibrada (deve-se comer uma maior quantidade de alimentos pertencentes aos grupos de maior dimensão e menor quantidade dos que se encontram nos grupos de menor dimensão, de forma a ingerir o número de porções recomendado); variada (deve-se comer alimentos diferentes dentro de cada grupo, variando diariamente, semanalmente e nas diferentes épocas do ano).


GT - Existe uma “dieta-padrão” ou cada pessoa deve seguir o seu próprio regime alimentar? No caso de existir uma “dieta-padrão”, em que consiste exactamente?
LR
- Não, não existe uma dieta padrão, cada pessoa tem o plano alimentar adequado às suas necessidades energéticas. Estas são calculadas através da avaliação antropométrica e do tipo de actividade física que cada pessoa exerce. Por exemplo, duas mulheres com a mesma idade, peso e altura, mas com profissões diferentes (uma é secretária e não faz qualquer tipo de exercício físico, outra tem um trabalho muito activo e pratica ginásio duas vezes), embora possam ter a mesma avaliação antropométrica, são completamente distintas a nível de necessidades energéticas diárias. A senhora sedentária precisa de muito menos calorias por dia do que a senhora que pratica exercício físico, que necessita de mais calorias por gastar muito mais energia do que a anterior.


GT - Como se mantém o peso ideal?
LR
- O peso ideal mantém-se com a prática de uma alimentação saudável associada à prática de exercício físico.


GT - A partir de uma certa faixa etária (15-18 anos), os jovens vão cada vez mais preterindo a alimentação saudável (em casa ou nas cantinas escolares), a favor de uma alimentação rápida e inadequada, recorrendo, na maior parte das vezes, ao fast-food em qualquer restaurante ou café. Em termos da saúde futura (e presente…), este comportamento alimentar pode trazer sequelas? Se sim, quais?
LR –
Sim, sem dúvida alguma, poderão vir a desenvolver várias patologias associadas aos maus hábitos alimentares, como obesidade, diabetes, colesterol, hipertensão, entre outras.






GT - Na sua opinião, o que poderá estar na base deste comportamento alimentar? Que estratégias se podem/poderiam utilizar no sentido de alterar/corrigir estes hábitos alimentares errados?
LR - Estando eu ligada a esta área, o que verifico é a falta de educação alimentar. Começamos a aprender a comer desde os primeiros meses de vida, e se essa educação falhar, falhará posteriormente e leva a estes comportamentos. Cada vez mais os pais têm menos tempo para estar com os filhos e para preparar uma refeição saudável e muitas vezes recorrem ao "Fast-Food" e isto passa a ser um hábito que se vai adquirindo e dificilmente se muda. O problema da ausência de adolescentes nas cantinas escolares deve-se por vezes à falta de controlo das ementas escolares, e falta de opções para elaborar pratos diferentes com a mesma qualidade visual (porque os olhos também comem) e de forma saudável.

GT - Actualmente, o assédio dos media e da moda afirma padrões estéticos muitas vezes fora do alcance de um corpo normal e saudável. Emagrecer torna-se, então, uma obsessão. Isto reflecte-se cada vez mais na nossa sociedade, sobretudo nos jovens, que, frequentemente, se submetem, de moto próprio e sem qualquer acompanhamento de um especialista, a rigorosas dietas. O que pensa dos produtos diet e light? E dos produtos “Sem” (sem açúcar, sem gorduras, …)?
LR-
É uma questão que muitos alunos me colocam, “porque é light ou diet então posso comer/beber porque não faz mal”. Os Diet são produtos em que há eliminação de um ou mais ingredientes da fórmula original, ou seja, são aqueles cuja composição acompanha as necessidades físicas, metabólicas, fisiológicas e/ou doenças específicas. Por isso, um alimento diet não significa necessariamente que tenha menos calorias. Nesses casos estão incluídas dietas como restrição de açúcar, sal, colesterol, gorduras, proteínas, glúten, entre outras. Os produtos diet que excluem alguns componentes do produto original vão acrescentar outros para manter a mesma consistência e sabor o que por vezes torna o alimento mais calórico. Nos alimentos light há redução mínima de 25% na quantidade total de um ou mais ingredientes, o que não significa que um alimento light tenha mais calorias que o diet, já que depende do nutriente que teve a redução da quantidade, por exemplo, açúcares, gordura saturada, gorduras totais, colesterol e sódio comparados com o produto tradicional ou similar de marcas diferentes. Por isso, o ideal é, sempre que possível, não optar por nenhum deles mas sim pelos originais de forma regrada.



GT - O que pensa das dietas de emagrecimento miraculosas anunciados nas revistas, na televisão e até nas farmácias?
LR - Discordo completamente. Infelizmente há muita procura desse tipo de dietas de emagrecimento pois são de fácil acesso a nível monetário e têm um enorme impacto a nível de resultados rápidos. Muitas das pessoas quando nos procuram exigem um bom resultado num curto espaço de tempo, e por vezes não pensam na saúde mas sim no objectivo que é perder peso seja da forma que for, daí que frequentemente recorram a essas dietas e suplementos desconhecendo os efeitos nocivos para a saúde.

GT - Que problemas que estas dietas espartanas podem causar em termos de saúde (a curto e médio prazo)?
LR
-Vários problemas. A curto prazo, podem desenvolver-se, por exemplo, desordens a nível intestinal (quando há a utilização de laxantes), e, em muitos casos, a longo prazo, podem surgir graves problemas intestinais por destruição da flora. Noutros casos, o descontrolo total do que é saudável e do limite de emagrecimento, leva à anorexia; a falta de informação sobre, por exemplo, os suplementos que se tomam, pode conduzir à deficiência de vitaminas e minerais indispensáveis para o crescimento e manutenção do equilíbrio do organismo e, a longo prazo, pode gerar sérios problemas de saúde.

GT - Pensa que factores psicológicos omnipresentes nas sociedades mais desenvolvidas, como o stress, a pressão no trabalho e na escola, a depressão, entre outros, podem, de algum modo, estar relacionados com a obesidade e os distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia?
LR - Sem dúvida alguma, e cada vez mais. As pessoas vivem num stress constante e por vezes “vingam-se” na comida, quer comendo demasiado, quer deixando de comer radicalmente.



GT - Muitas vezes, seguir uma dieta alimentar adequada não é suficiente para se conseguir manter o peso ideal. Então há que associá-la, também, à prática regular do exercício físico, nomeadamente a prática desportiva. Em termos de manutenção do peso ideal, que contributos adicionais pode trazer a prática regular do exercício físico?



LR - Considero o exercício físico um benefício essencial para o nosso bem-estar, quer físico quer mental. Quando este se associa a uma alimentação equilibrada tem como resultado uma vida saudável e com menos probabilidades de virem a surgir alguns problemas de saúde associados ao sedentarismo e à má alimentação. Um exercício físico e uma alimentação saudável para além de ajudarem a manter o peso ideal têm como contributo a aumento de massa muscular e a perda de massa gorda, mantendo assim o equilíbrio saudável do organismo.

GT - Para mantermos um peso saudável e evitar doenças graves, qual o exercício físico mais adequado e que duração deve ter?
LR -
Depende muito de pessoa para pessoa, das suas necessidades e possibilidades. Mas de uma forma geral, a caminhada, cerca de 20 a 30 minutos por dia, seria indicada para qualquer pessoa, embora, como é óbvio, dependa de pessoa para pessoa o tipo e a duração de cada exercício.

GT - Quando um jovem pratica desporto com regularidade, que dieta alimentar deve seguir (incluindo a quantidade e a periodicidade)?
LR -
Tal como explicado anteriormente, os planos alimentares são feitos de acordo com os dados de cada um (peso, altura, idade e tipo de actividade física) por isso é impossível responder a esta questão dessa forma. Mas posso dar dois exemplos de dois casos do mesmo sexo mas com actividades diferentes: Um rapaz de 18 anos, mede 1,80m, pesa 72 kg e pratica atletismo diariamente cerca de 1hora por dia. O outro, com 17 anos, mede 1,65m, pesa 80kg e pratica apenas Educação Física duas vezes por semana. Para o primeiro rapaz, que está com o peso ideal para a sua altura, teria que elaborar um plano de 2730 Kcal (kilocalorias) devido à actividade que pratica ser muito intensa, daí precisar de mais energia para desgastar. Para o segundo rapaz, que está com peso a mais, cerca de 20kg, teria que elaborar um plano para perda de peso. Mesmo tendo em conta que só prática exercício duas vezes por semana, o plano dele seria de cerca de 1800Kcal diárias devido ao excesso de peso e ao exercício físico ser moderado.





GT - Existem cuidados especiais a ter em conta, em termos alimentares (comida e bebidas), antes, durante e depois da actividade desportiva?
LR - Sim, existem. No que diz respeito à comida, deve-se ter em conta alimentos de fácil digestão; no que diz respeito à bebida, aconselho sempre água. É muito importante a hidratação de um desportista, por vezes existem falhas graves que levam a casos sérios de desidratação.

GT - Se a actividade desportiva implicar a participação em competições, os cuidados a ter com a alimentação alteram-se? Se sim, de que modo?
LR -
Hoje em dia, recomenda-se aos atletas que a sua alimentação seja composta de cerca de 65% de hidratos de carbono e de menos de 20% de gorduras. Muitos atletas de competição aumentam a sua reserva de energia ingerindo ainda mais hidratos de carbono, durante os dias que antecedem a prova. Esta “carga de hidratos de carbono” garante que os seus músculos acumulem glicogénio, uma substância altamente energética que fornece aos músculos as reservas de que necessitam e os prepara para a sua actividade. A informação acerca da quantidade de energia e dos nutrientes dos alimentos, que pode ser encontrada nos rótulos das embalagens, é frequentemente apresentada em kilojoules e em kilocalorias: 4,2 kJ = 1 kcal,.etc.

GT - A vontade de comer alimentos com açúcar antes de uma competição pode prejudicar o desempenho/rendimento do atleta?

LR– Sim, pode. O consumo de grandes quantidades de açúcar ou de glicose, 1 hora antes do exercício não é recomendado. O consumo de açúcar antes de iniciar o exercício produz menos disponibilidade de glicose sanguínea devido à resposta insulínica. Assim sendo, passa-se a depender mais do glicogénio muscular como combustível metabólico. Como o glicogénio muscular é gasto mais rapidamente durante a atividade de endurece, pode surgir a fadiga muscular precoce.


GT - Hoje em dia, o mercado coloca ao dispor dos atletas uma enorme variedade de produtos, nomeadamente, Should I be using any sports drinks, vitamin supplements, amino acid supplements, energy bars or salt pills?bebidas energéticas, suplementos vitamínicos, suplementos de aminoácidos, barras energéticas ou comprimidos de sal. O que pensa destes produtos?

LR - Deixando-se levar pela publicidade enganosa, as pessoas recorrem cada vez mais a esse tipo de produtos. Ora, para além de serem prejudiciais para a saúde, o que eles provocam realmente no organismo é apenas uma acção rápida para o exercício físico. Como já tive oportunidade de sublinhar, através de um plano alimentar adequado podemos sempre responder de forma saudável às nossas necessidades energéticas diárias.

Neste momento devem estar a questionar-se sobre a identidade do Grupo Três. Pois bem, somos alunas do 12º ano, e constituímos o grupo de trabalho de Área de Projecto da Turma C, que está a desenvolver um projecto subordinado ao tema “Desporto e Nutrição – da teoria à prática”. Com esta entrevista pretendemos sensibilizar / alertar toda a Comunidade Escolar, e em particular os alunos da nossa escola, para a importância de uma alimentação adequada e mostrar que a prática desportiva ou o exercício físico regular aliados a uma alimentação correcta e equilibrada são indispensáveis para um estilo de vida saudável.




Área de Projecto, 12ºC
Ana Meireles, nº1, Joana, nº7,
nº8, Vânia Cima, nº16,Vânia Monteiro, nº18

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