Rómulo de Carvalho foi nomeado professor efetivo do
Liceu de Vila Real, em 19 de fevereiro de 1956, tendo exercido nesta escola
durante esse ano.
Poderemos testemunhar a presença deste professor e
poeta numa entrevista a António Barreto, realizada por Anabela Mota Ribeiro, da
qual citamos algumas observações sobre a escola e sobre o poeta.
Gostei
dessa escola. O nome que o Estado Novo lhe deu era Liceu Nacional de Vila Real,
mas toda a gente dizia Liceu Castelo Branco, que era o nome dado no princípio
da República. Os meus pais, quando eu tinha dois ou três anos, mudaram-se para
Vila Real, levaram os filhos atrás e fizeram mais uns tantos – tenho sete
irmãos. Por que é que mencionei Vila Real? Foi um daqueles gestos aparentemente
fortuitos..., mas gostei daquele liceu.
Era
um liceu confortável, o que é estranho, porque Vila Real era desconfortável,
longe de tudo, um gelo. O liceu tinha aquecimento central, todas a salas tinham
um ou dois radiadores. Tinha uma biblioteca lindíssima, cheia de livros, nuns
armários com uma rede de ferro. Podíamos requisitar os livros e lê-los lá. Para
um miúdo de dez anos, 12 anos, em Portugal, não era tão usual quanto isso. Era
o único liceu em todo o distrito, (Chaves, Régua, Vila Pouca, Alijó, Murça), o
que mostra bem o número de pessoas que chegava ao liceu. Se juntasse todos os
de Letras, éramos 25.
Tive
péssimos professores. Uns fascistas, outros imbecis. Mas dois ou três
marcaram-me. O Carlos Sanches ensinou-me a ler História, a perguntar “mas por
que é que é assim?, por que é que não foi assado?, por que é um país tem
fronteiras?”. Ensinou-me a ler um livro, mas a ler o que não está no livro…
Tive
a sorte de apanhar o Rómulo de Carvalho, também António Gedeão, que dava Física
e Química.
É
paradoxal, mas foi aquele liceu, com toda a sua mecânica, que me disse: “há um
mundo lá fora, vai”. Fiquei com vontade de ir embora de Vila Real, da
província. Era um lugar abafado, fechado. Não tenho uma recordação dourada, nem
mágica da adolescência. Mal pude, fui a correr, a correr, para Coimbra. E mal
pude ir de Coimbra, também fui embora.
Citações
da entrevista publicada
originalmente no Jornal de Negócios ,
por Anabela Mota Ribeiro, em 27/05/2013
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