1-A época festiva que vivemos é, não raramente, dada a grandes tiradas moralistas sobre a – sobretudo em Portugal quando comparado com outros países da UE, suposta – crise da família. Sempre que ouço tão tonitruantes reparos, recordo-me de Marcos, o evangelista: “Nisto chegam sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora, o mandam chamar. A multidão estava sentada em volta dele, quando lhe disseram: ‘Estão lá fora tua mãe e teus irmãos que te procuram’. Ele respondeu: ‘Quem são minha mãe e meus irmãos?’. E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: ‘Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe’”.
Se Deus é amor, fazer a vontade Dele significa amar. E amar os (nossos) consanguíneos, pois claro, mas não nos ficarmos por aí. Como escrevia Frei Bento Domingues para o ano (novo) de 2008, o que Jesus diz é muito simples: aprendam a fazer família com quem não é da família. Será que muitos dos que vislumbram uma idade das trevas para a instituição familiar serão capazes de ver para lá do parentesco, ou, desde que os nossos estejam bem, tudo vai bem?
2-Por outro lado, olhar para a família, hoje, significa repensar papéis, contextos, mudanças que o tempo trouxe e indagar da melhor educação para cada menino (Jesus) que, mesmo que minguadamente, vai chegando a cada casa:
- é importante, em âmbito familiar, pensar e reflectir com a criança que cresce sobre o sentido que a Vida tem – ou como pode cada vida ser significativa -, significado esse que poderá ser rochedo de aconchego e superação madura das dificuldades inevitáveis, por que todos passamos?;
- é importante edificar uma educação onde a dimensão cívica esteja presente, a preocupação com a comunidade ou o bem comum – a preocupação que ultrapassa a rede dos nossos familiares e amigos -, ou devemos (apenas?) incutir a ideia de uma formidável especialização, com vista a uma boa carreira (profissional) e a uma felicidade (privadas)?;
- sobrelevarão, nas nossas preocupações quotidianas, as questões mais pragmáticas, ou a educação pela arte fará, também, sentido? E será mesmo possível uma visão eclética, polifónica da educação, ou, tendo mesmo de optar, o que faremos?;
- conseguirei formular um continuum entre instrução e educação, em que através da história, da Literatura ou das Artes consigo transmitir valores, ou tenho uma visão estanque destas duas dimensões (instrução e educação)?;
- e quando há muito a mulher se emancipou, a igualdade de género é uma urgência, o pai já não é figura distante, e é o seu papel que porventura mais em crise ficou no último
meio século, como actuar? A este propósito, em O Valor de Educar, Fernando Savater diz que ao pai se impõe, hoje, que (ainda) mantenha a referência de autoridade tão importante à estruturação da criança, mas que, simultaneamente, se maternalize. Conseguirá resgatar a autoridade entretanto esvanecida e maternalizar-se efectivamente?
Pedro Seixas Miranda
Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real
sábado, 25 de dezembro de 2010
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