Amor
Aqui estou, desarmada, sem nada para pensar em tudo: é algo indefinido
com definição de quatro ou sete letras, capaz de fazer com que o meu ser se
erga da maior tristeza com um simples olhar, e entre em queda livre para um
precipício de amargura.
Um
desamor é amor da mesma forma, com três letras que fazem a total diferença na
interpretação desta palavra, amor, que tanto tem de horrível como de
maravilhoso, que traz algo colado a ela, não a larga. Já, na realidade, quem a
usa no "modo sete", não tem nada nem ninguém a seu lado… da pessoa a
quem a sua alma decidiu dar metade da sua essência. Em troca de quê? Em troca
de um sentimento pior que a saudade, pois apesar da ausência permanece aquele
alguém: um sentimento vazio, vago, que destrói, mas constrói para situações
vindouras, na esperança de se preencher talvez com mais calma e doçura, ou com
um muro intransponível de tristeza e insegurança, na tentativa de nunca voltar
a despertar em si essa chama que arde sem se ver, como Camões, na
tentativa de não magoar.
Não valerá a pena, no entanto, entregarmo-nos a um
outro que cuidará do nosso eu como se
fosse uma rosa de cristal que ao mais ligeiro toque parte, ou como um lindo
tecido que após algumas utilizações perde a sua vitalidade e é colocado no lixo
só porque está desgastado, cansado de ser usado, cansado de ser menosprezado,
cansado simplesmente e cruamente cansado? Na verdade, quando alguém que dá
valor às coisas mais simples pega no tecido, o costura fazendo com que volte a
ficar como dantes, o outro, o incauto, nota que perdeu o melhor que tinha
encontrado e agora não há volta atrás: então, simplesmente, vê-se enojado com a
torpeza do seu ser.
Porém,
tudo é relativo, não é de maneira alguma igual ao conto de fadas que tínhamos
ouvido em crianças, inocentes, iludidas por uma realidade inexistente nesta
mísera vida, uma curta passagem em que deveríamos aproveitar todos os dias…
amando. O amor não se limita a amar o companheiro, mas também os parceiros de
vida: os amigos, os inimigos, os familiares, os animais...
Assim,
não deveríamos pensar nunca devia ter feito isto, pois todas as atitudes
que tomamos nos fortalecem, na medida em que foram elas que nos transformaram
nas pessoas que somos hoje. É preferível arriscar do que ficar na dúvida e
se..., é preferível o fui um otário!, pois aprendemos e sabemos as
consequências das nossas ações.
Em
suma, será a paixão ou a ambição de possuir alguém que nos leva a fazer e a
pensar o impensável, a sofrer com o contentamento? será possível amar com as
quatros letras (viver "no modo quatro"), sentir e vivê-las ao ponto
de tratarmos alguém por "amor",
dar metade de nós, de fazer tudo para o saber bem, tudo por amor?...
Aqui
estou eu, a pensar em algo que outros só vivenciaram quando já na ponta do precipício
coberto por um nevoeiro tão denso que não deixa ver nem o próprio ser... é
preferível atirarmo-nos para o
desconhecido pois podemos estar a perder a nossa alma-metade.
Ao
acordarmos dessa queda livre, ou vemos aquele que nos leva onde ninguém nos
levou antes, a um lugar com cheiro a flores, que grita o seu amor por nós mesmo
que lhe falte a voz, ou vemos aquele que nos vai destroçar porque a nossa queda
foi simplesmente um engano...
É
evidente que em tempos mais românticos as pessoas valorizavam o
"tecido": mesmo estragado, elas consertavam e não deitavam fora,
porque acreditavam no amor, porque acreditavam ser aquela a pessoa dos seus
sonhos.
Será
que tu, que melhoras e pioras as vidas dos apaixonados, tu, que complicas e
descomplicas tudo, tu, que fazes um eu
em função da música que ouve ou rejeita, sabes como descrever-te, como expressar-te
sem ferir os outros? Não sei lidar contigo, mas sei que sou mais um brinquedo
nas tuas mãos, tal como outros já foram e serão, mas não me consertarás, antes
desaparecerei, e nunca mais brincarás levado pelo tempo que não perderei
contigo. Apesar de tudo, sem ti não viverei feliz mas na amargura, já que
ninguém vive sem ti, amor...
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