Vou hoje referir-me, brevemente, ao meio, possibilidades de caminho e de futuro, a partir do qual, semanalmente, comunico: a rádio. Faço-o a partir do estudo Os Novos Caminhos da Rádio. Radiomorphosis. Tendências e Prospectivas, um documento elaborado por Jorge Vieira, Gustavo Cardoso e Sandro Mendonça (um estudo publicado no presente ano e que pode ser encontrado on line, em www.obercom.pt, o sítio do Observatório de Comunicações).
Começam os autores por destacar a resiliência histórica da rádio: numa cultura hiperactiva, como aquela em que nos situamos, em que ao mesmo tempo estamos no computador, olhamos a TV e conversamos com o amigo do lado, a rádio não requer excesso de atenção, logo pode permanecer por ali. Logo, não a dispensamos imediatamente. A rádio é multiplataforma, ubíqua, simples, trans-hertziana e compatível com multitasking, assinalam. Tendências actuais por que passa a rádio: micro-segmentação de ouvintes; semi-automatização da programação; fusão no ambiente tecnológico em que nos movemos (nunca a rádio foi tão portátil. Nem a deixamos, nem ela nos deixa). Estas tendências recebem os nomes técnicos de, respectivamente, narrowcasting; drone station e cloud rádio. Se o radialista, o pivô, sua voz e o que diz, seu discurso, se mantêm como mais-valia de uma estação, a figura do moderador, como mediador entre ouvintes e rádio emerge, nos nossos dias. A publicidade na rádio, dada a boa audiência de que dispõe em Portugal, conjugada com baixos custos quando comparada com aqueles que resultam do investimento em outros media, vale a pena. Os anunciantes deverão ter em conta, pois, quer a publicidade na rádio, quer na internet. De resto, aqui acrescento o que dizia José Nuno Martins, num programa sobre os 75 anos da rádio pública em Portugal, realizado, há meses, na RTPN, no qual se referia a uma audiência similar da rádio quando comparada com os telejornais, isto quer ao início da manhã, quer ao fim da tarde, mostrando-se espantado por o poder político, p.ex., negligenciar essa oportunidade de fazer passar a sua mensagem, para uma verdadeira multidão.
Poderemos lançar, a partir deste estudo, ainda, um olhar sociológico que enquadre a rádio, hoje: transição de uma sociedade industrial e de broadcasting para uma sociedade assente em activos intangíveis apoiados na comunicação electrónica e na digitalização da informação; rádio hertziana como força de base tecnológica e emergência do indivíduo em rede como força de natureza sociológica; a produção e difusão de conteúdos alarga-se às seguintes plataformas: receptores fixos fornecidos por ondas hertzianas, automóvel, telemóvel, internet. Dentro da internet, os autores sublinham a urgência de equacionar a qualidade dos sites e avançar para as redes sociais. Finalmente, registo para sonhos de outros dois homens da rádio, Carlos Vaz Marques e João Paulo Menezes, que me parecem sugestivos. O primeiro, encarando a sua rádio de sonho como aquela que fosse sequência dos tempos de um cinema (quase) primitivo: ali, onde a falta de som, cinema-mudo levava a uma construção da narrativa pelas imagens, aqui, um conjunto de sons, só sons sem demais excessos palavrosos, a teceram a narração. De João Paulo Menezes, de entre um conjunto de propostas feitas em 2008, destaco estas de uma rádio de futuro:
A oferta de programas inclui propostas de ouvintes (de produtores-amadores), na lógica actual dos podcasts (e do jornalismo do cidadão, do "prosumer"); 2) Essas ofertas não obedecem a uma grelha de programas nem a uma temporalidade. Quando se liga o computador de manhã, já lá estão os principais conteúdos dessa programação, da mesma forma que determinado conteúdo pode ir imediatamente para o ar quando estiver pronto; 5) Aquilo que hoje conhecemos por podcast evoluirá para a desconstrução "ao milímetro" da oferta; poderá haver um podcast por noticiário mas sobretudo um podcast por notícia, de modo a que qualquer ouvinte construa o seu noticiário, podendo subscrever "tags" de diversas fontes sonoras (várias rádios, por exemplo) que confluem para o computador, telemóvel ou outro aparelho online.
Em casa, no carro, no trabalho e na internet, continuaremos à procura da forma única de se expressar de um (dado) comunicador, da entrevista fatal, da reportagem premiada. Acompanhando o tempo, é certo que faremos quase sempre isso quando nos apetecer, á hora a que der jeito. Mas a actualidade é também um trunfo, pelo que o modelo tradicional de rádio deverá coexistir. O problema de um excesso electrónico, deixa-o Álvaro Costa: ficando a rádio em autogestão, em piloto automático, até pela contenção de custos, em morrendo alguém, nomeadamente ao fim-de-semana, só termos conhecimento da morte, naquela estação, passados dois dias.
Pedro Seixas Miranda
Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário