“era bom que houvesse laços de solidariedade, respeito e amizade entre alunos e professores”.
Para uma reflexão sobre o sistema educativo dos nossos dias, resolvemos entrevistar uma professora aposentada que, por motivos familiares, não tem estado muito afastada do ensino.
Professora do Ensino Secundário durante algumas décadas, confessou sentir saudades da convivência com os seus alunos, embora algumas vezes sinta satisfação por já não estar ao serviço. Parece-lhe que o professor já não é visto como o amigo que ajuda o aluno a “crescer” e que muitas vezes este é visto como o “inimigo” que sabe bem ofender. Esta opinião resulta de ocorrências que algumas colegas relatam.
O nome da minha entrevistada é Maria Júlia Campos. O seu local de trabalho foi a Escola Secundária de S. Pedro, onde leccionou História. Quando interrogada sobre a sua idade, respondeu com alguma graça que lhe era impossível responder.
Face à minha expressão de admiração, explicou que tinha duas idades e que não sabia qual declarar: uma concreta, bem visível no seu B.I., nas suas rugas e nos seus cabelos brancos, outra, a que os outros não vêem, mas que ela sente e que a faz esquecer aquela, expressa quer no seu B.I. quer nas suas capacidades físicas. Esta última está muito aquém daquela outra e é a que lhe dá momentos de felicidade, a que a faz apreciar a convivência com os jovens e a leva a ter a opinião de que algumas pessoas da sua idade são umas “chatas”.
Professora do Ensino Secundário durante algumas décadas, confessou sentir saudades da convivência com os seus alunos, embora algumas vezes sinta satisfação por já não estar ao serviço. Parece-lhe que o professor já não é visto como o amigo que ajuda o aluno a “crescer” e que muitas vezes este é visto como o “inimigo” que sabe bem ofender. Esta opinião resulta de ocorrências que algumas colegas relatam.
O nome da minha entrevistada é Maria Júlia Campos. O seu local de trabalho foi a Escola Secundária de S. Pedro, onde leccionou História. Quando interrogada sobre a sua idade, respondeu com alguma graça que lhe era impossível responder.
Face à minha expressão de admiração, explicou que tinha duas idades e que não sabia qual declarar: uma concreta, bem visível no seu B.I., nas suas rugas e nos seus cabelos brancos, outra, a que os outros não vêem, mas que ela sente e que a faz esquecer aquela, expressa quer no seu B.I. quer nas suas capacidades físicas. Esta última está muito aquém daquela outra e é a que lhe dá momentos de felicidade, a que a faz apreciar a convivência com os jovens e a leva a ter a opinião de que algumas pessoas da sua idade são umas “chatas”.
Francisca - Ouço nas televisões e vejo títulos nos jornais referindo problemas na Educação. Pode, por favor, dizer-me porque é que a Educação é tão falada hoje em dia?
Prof.a Maria Júlia Campos - Julgo que há duas razões que me parecem mais evidentes: a pouca autoridade dos professores e o excesso de irreverência dos alunos, que muitas vezes atinge a falta de respeito.
Prof.a Maria Júlia Campos - Julgo que há duas razões que me parecem mais evidentes: a pouca autoridade dos professores e o excesso de irreverência dos alunos, que muitas vezes atinge a falta de respeito.
Francisca - Ao curso de medicina continua a ter acesso apenas um reduzido número de alunos. No entanto temos médicos espanhóis, ucranianos, cubanos… a exercer medicina no nosso país. O que pensa desta situação?
MJC - Parece-me uma injustiça feita aos alunos portugueses. Para o curso de medicina julgo que seria muito útil que houvesse umas entrevistas feitas por psicólogos que pudessem avaliar a existência, ou não, de vocação e a compaixão que devem ter os médicos. As notas de acesso seriam secundárias e não atingiriam o nível elevado que hoje é exigido.
Francisca - Relativamente à sua população, Portugal tem um número mais elevado de universidades (e portanto de cursos) do que os restantes países da Europa. Concorda com esta proliferação de estabelecimentos de ensino superior?
MJC - Parece-me uma injustiça feita aos alunos portugueses. Para o curso de medicina julgo que seria muito útil que houvesse umas entrevistas feitas por psicólogos que pudessem avaliar a existência, ou não, de vocação e a compaixão que devem ter os médicos. As notas de acesso seriam secundárias e não atingiriam o nível elevado que hoje é exigido.
Francisca - Relativamente à sua população, Portugal tem um número mais elevado de universidades (e portanto de cursos) do que os restantes países da Europa. Concorda com esta proliferação de estabelecimentos de ensino superior?
MJC - Não tenho conhecimento profundo sobre este assunto mas, pelo que tenho lido, há centenas de cursos, muitos dos quais levam os licenciados para o desemprego e também ouço dizer que nem todos têm o nível de exigência que seria esperado. Se isto é certo, seria preferível haver menos cursos e menos universidades. Um nível elevado de exigência dá garantias de competência e de trabalho. Disso é exemplo a Universidade Católica.
Francisca - Eu frequento o 10º ano. Até ao 9º ano tive mais de dez disciplinas. A maior parte dos alunos considera que são disciplinas a mais. O que pensa a Sr.ª professora disto?
MJC - Acho que o aluno actualmente tem uma carga horária e disciplinar exagerada e que poderia ser reduzida em proveito de algumas disciplinas.
Francisca - Os noticiários referem frequentemente casos de indisciplina dos alunos. Por vezes com apoio dos pais… No seu entender, o que seria preciso fazer para impor mais respeito e disciplina nas escolas?
MJC - Penso que haveria mais disciplina e respeito nas escolas se a estas fosse dada mais autoridade para imporem regras e medidas disciplinares. Estas deviam ser implementadas logo no primeiro ciclo.
MJC - Acho que o aluno actualmente tem uma carga horária e disciplinar exagerada e que poderia ser reduzida em proveito de algumas disciplinas.
Francisca - Os noticiários referem frequentemente casos de indisciplina dos alunos. Por vezes com apoio dos pais… No seu entender, o que seria preciso fazer para impor mais respeito e disciplina nas escolas?
MJC - Penso que haveria mais disciplina e respeito nas escolas se a estas fosse dada mais autoridade para imporem regras e medidas disciplinares. Estas deviam ser implementadas logo no primeiro ciclo.
Francisca - O que acha do impulso que este governo deu à aprendizagem da informática no 1º Ciclo do Ensino Básico?
MJC - Fico admirada e acho positivo as capacidades que os miúdos agora adquirem para lidarem com o sistema informático. Todavia, penso que o acesso dos miúdos ao “Magalhães” pode ter consequências negativas e acho prejudicial o uso que os alunos fazem da internet, sobretudo no Secundário. Muitos deles limitam-se a copiar textos sem qualquer espírito crítico.
Francisca - Se estivesse no “activo” neste momento, quais pensa que seriam as suas maiores dificuldades?
MJC - Vou apenas citar uma dificuldade, com certeza teria outras… A dificuldade seria a falta de respeito por parte dos alunos, a que não me habituei, porque fui sempre respeitada ao longo da minha vida profissional.
MJC - Fico admirada e acho positivo as capacidades que os miúdos agora adquirem para lidarem com o sistema informático. Todavia, penso que o acesso dos miúdos ao “Magalhães” pode ter consequências negativas e acho prejudicial o uso que os alunos fazem da internet, sobretudo no Secundário. Muitos deles limitam-se a copiar textos sem qualquer espírito crítico.
Francisca - Se estivesse no “activo” neste momento, quais pensa que seriam as suas maiores dificuldades?
MJC - Vou apenas citar uma dificuldade, com certeza teria outras… A dificuldade seria a falta de respeito por parte dos alunos, a que não me habituei, porque fui sempre respeitada ao longo da minha vida profissional.
Francisca - No Ministério da Educação, sucedem-se os ministros, que acabam por ocupar o seu lugar durante pouco tempo. Qual é a sua opinião acerca do assunto?
MJC - Uma consequência da sucessiva nomeação de ministros para este Ministério leva a que a política educativa esteja sempre a mudar e não haja na Educação uma continuidade na implementação de medidas que melhorem o sistema de ensino.
Francisca - Se por uns momentos lhe fosse possível legislar e impor duas medidas na área da Educação, o que é que a Sr.ª professora escolheria mudar?
MJC - Uma medida que eu acho melhoraria o sistema de ensino seria dar mais autonomia às escolas e aos pais dos alunos, o que lhes permitiria escolher professores e fazer algumas alterações nos programas. Outra medida seria a existência de exames nacionais nos fins de ciclo e incentivos para as escolas que obtivessem melhores resultados.
MJC - Uma consequência da sucessiva nomeação de ministros para este Ministério leva a que a política educativa esteja sempre a mudar e não haja na Educação uma continuidade na implementação de medidas que melhorem o sistema de ensino.
Francisca - Se por uns momentos lhe fosse possível legislar e impor duas medidas na área da Educação, o que é que a Sr.ª professora escolheria mudar?
MJC - Uma medida que eu acho melhoraria o sistema de ensino seria dar mais autonomia às escolas e aos pais dos alunos, o que lhes permitiria escolher professores e fazer algumas alterações nos programas. Outra medida seria a existência de exames nacionais nos fins de ciclo e incentivos para as escolas que obtivessem melhores resultados.
Francisca - Imagine-se a dar um conselho a professores e alunos, imagine que todos a ouviam, o que diria?
MJC - Eu pediria a ambos que se lembrassem que nas escolas se devem formar homens e mulheres com valores e sentido de responsabilidade, e lembraria que é nas escolas que se prepara o futuro. Uma vez que os alunos passam tantas horas na escola, mais do que com os pais, era bom que houvesse laços de solidariedade, respeito e amizade entre alunos e professores.
MJC - Eu pediria a ambos que se lembrassem que nas escolas se devem formar homens e mulheres com valores e sentido de responsabilidade, e lembraria que é nas escolas que se prepara o futuro. Uma vez que os alunos passam tantas horas na escola, mais do que com os pais, era bom que houvesse laços de solidariedade, respeito e amizade entre alunos e professores.
Texto: Francisca Campos
Fotografia: Francisca Campos
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