Divulgação informativa e cultural da Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco - Vila Real

quinta-feira, 4 de março de 2010

Entrevista a uma Educadora de Infância recém-formada

“Em que outro lugar receberias um sorriso do tamanho do mundo todas as manhãs?”

Uma Educadora de Infância marca uma criança indelevelmente, uma vez que o primeiro contacto com esta figura é essencial para um desenvolvimento escolar saudável e com sucesso.
Para podermos saber um pouco mais sobre esta profissão, convidámos Sílvia Matias, uma Educadora com pouca experiência mas com uma grande vontade de trabalhar e pôr em prática tudo o que aprendeu.
Sílvia tem 23 anos, e está a terminar o mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico. Ainda não está a exercer a profissão, mas já teve contacto com crianças, em várias instituições, nas quais estagiou.

- Que razões a levaram a optar pelo Curso de Educação Pré-escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico?
- Quando entrei para a universidade, frequentei o antigo curso de Educação de Infância. No decorrer do 3º ano, e com a entrada em vigor do Tratado de Bolonha, o curso mudou de nome, passando a designar-se de Curso de Educação Básica. Não ficando satisfeita com a licenciatura, e como tinha a oportunidade de tirar o Mestrado, optei pelos dois níveis de ensino – Pré-Escolar e 1º Ciclo. Sempre gostei muito de crianças, e considero este tipo de trabalho louvável e dos mais importantes. Em que outra profissão poderia pôr laços no cabelo, fazer penteados inovadores e ver um desfile de moda todas as manhãs? Em que outro local te diriam todos os dias “és linda!”? Em que outro trabalho te abraçariam para te dizerem o quanto te querem? Em que outro lado te esquecerias das tuas tristezas para atender ao joelho esfolado ou ao coração afligido? Onde receberias mais flores? Onde mais poderias iniciar na escrita uma mãozinha, que, quem sabe, um dia poderá escrever um livro? Onde poderias ensinar a ler? Em que outro lugar receberias um sorriso do tamanho do mundo todas as manhãs? Em que outro sitio te fariam um retrato grátis? Em que outro lugar as tuas palavras causariam tanta admiração? Em que outro trabalho te receberiam de braços abertos mesmo depois de teres faltado um dia? Onde poderias assistir no 1ª fila à execução de grandes obras de arte? Onde poderias aprofundar os teus conhecimentos sobre a Ciência? Em que outro lugar derramarias lágrimas por ter que terminar um ano de relações tão felizes? Enfim…. os que menos têm são os que mais nos dão!

- Que Universidade frequentou? Ficou satisfeita com as condições que aí lhe foram proporcionadas?
- Frequentei a UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). De um modo geral, sim, fiquei satisfeita. Contudo, o plano de estudos da antiga Licenciatura, no meu entender, estava melhor elaborado, no que diz respeito às unidades curriculares, ou seja, tinha disciplinas devidamente orientadas para a prática. Além disso, penso que temos pouca metodologia.

- Quais foram as maiores dificuldades que sentiu no decorrer do Curso? Conseguiu superá-las?
- Não lhes vou mentir, nunca tive dificuldades que me tirassem o sono. Embora tenha deixado uma cadeira para trás (Matemática 3), muito por culpa do professor, que foi posteriormente retirado da leccionação, consegui melhorar a nota no momento do exame.

- Visto que com o Tratado de Bolonha teve a oportunidade de contactar durante o estágio com crianças dos dois níveis de ensino (Pré-Escolar e 1º Ciclo), em que nível gostou mais de trabalhar?
- No Pré-Escolar, claro. De facto, no 1º Ciclo as coisas são mais fáceis devido aos documentos publicados pelo Ministério da Educação (competências essenciais e programas), que nos indicam todos os passos a tomar, e aos livros que vêm já com complementos de fichas de trabalho. Quanto ao Pré-Escolar, as únicas publicações do Ministério da Educação são as orientações curriculares, tudo o resto é elaborado por nós. No que concerne ao trabalho propriamente dito, as crianças dos 3 aos 6 anos são muito mais puras, mais verdadeiras no que fazem e no que dizem.

- Qual foi o pior momento a que esteve sujeita durante o estágio?
- Antes de mais, quero referir, que nunca tive medo de estar à frente de uma turma e de ser observada pelas professoras. Contudo, conseguir controlar o grupo/turma e impedir que o caos se instalasse, foi um aspecto que demorou algum tempo a dominar e que requereu da minha parte a utilização de múltiplas estratégias.

- Em que instituições estagiou?
- Graças a Deus, um dos motivos que me leva a ter alguma consideração pela UTAD foi o esforço desta em conseguir inserir-nos, logo no segundo ano, em instituições. Nesse ano e no seguinte, tive a oportunidade de passar em observação e cooperação pela Biblioteca infanto-juvenil do CIFOP, pelo Bairro São Vicente Paula (Jardim de Infância e 1º Ciclo), pela Santa Casa da Misericórdia, pelo Jardim de Infância de Mateus e pelo Jardim de Infância de Nogueira. No que diz respeito ao estágio, em 1º Ciclo, estive na Escola Carvalho Araújo, e, em Pré-escolar, no Jardim de Infância da Araucária.

- Pelo que acabou de nos dizer, já colaborou, então, com instituições de Solidariedade social (IPSS), e de rede pública. Que diferenças notou entre elas?
- Relativamente ao grau de profissionalismo das professoras/educadoras, nada tenho a dizer, todas elas agiram adequadamente, não olhando ao tipo de instituição em que estavam a leccionar. Quanto às infra-estruturas e materiais existentes, de facto as IPSS estavam melhor ornamentadas.

- O que espera encontrar nesta profissão?
- Espero encontrar muito trabalho, não só com as crianças, mas também com os adultos pertencentes à comunidade envolvente, que muitas vezes, ao não entenderem o nosso trabalho, nos colocam obstáculos. Paralelamente, haverá também o trabalho de secretária, de papelada. Espero ter momentos bons e maus, que irão marcar a minha vida, embora continue a considerar aliciante que o desenvolvimento e aprendizagem de muitos pequeninos me digam respeito a mim.

- Quais são as suas expectativas para o futuro?

- Neste momento, como devem saber, não são as melhores. Mas não vou perder a esperança nem desesperar por não leccionar. A formação que tenho neste momento e as expectativas de fazer uma formação contínua permitem-me ser competente noutros tipos de serviços, ligados à educação (que não apenas a leccionação), por exemplo, trabalhar em Câmaras Municipais, hospitais, cadeias, museus, centros de estudo, segurança social, etc.



Após termos entrevistado Sílvia Matias, sabemos um pouco mais sobre o Curso de Educação Pré-escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico e o mundo do trabalho a que dá acesso. Ficámos também a conhecer as ideias e os ideais desta jovem recém licenciada. Desejamos-lhe um futuro promissor.


Marta Pinho
Daniela Alves, 10º I

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