Porque sonhamos...
O sonho tem inspirado a criatividade humana e orientado o pensamento e a acção de poetas, músicos, pintores ou activistas. Muitas são as referências ao sonho na história e cultura do século XX: a “Pedra Filosofal” de António Gedeão, as pinturas surrealistas de Salvador Dali ou o célebre “I Have a dream” de Martin Luther King são apenas alguns exemplos.
Mas é o sonho enquanto realidade psicológica que constitui o fio condutor deste artigo. O sonho é um fenómeno universal. Não escolhe idade, sexo, cultura ou religião e nem sequer é um exclusivo do ser humano, pois os animais também sonham.
Mas é o sonho enquanto realidade psicológica que constitui o fio condutor deste artigo. O sonho é um fenómeno universal. Não escolhe idade, sexo, cultura ou religião e nem sequer é um exclusivo do ser humano, pois os animais também sonham.
Qual a relação entre o sono e o sonho?
Quando dormimos profundamente, ocorre o chamado sonho paradoxal ou REM (rapid eye movement) que surge ciclicamente, quatro a cinco vezes por noite. Nesta fase do sono registam-se movimentos oculares rápidos e verifica-se ainda a paralisia dos membros, o ritmo cardíaco e as respirações tornam-se irregulares. Ainda que os sonhos se manifestem em todas as fases do sono, estudos realizados defendem que o conteúdo destes varia de acordo com o momento em que surgem. Assim, no período REM, caracterizado por uma elevada actividade cerebral, os sonhos são bizarros representando uma história.
Mas, por que razão sonhamos?
Esta não é uma questão fácil, existindo muitas teorias quanto à razão de ser dos sonhos. A mais célebre de todas é a explicação desenvolvida por Sigmund Freud. Para o pai da Psicanálise “um sonho é a realização de um desejo” e também “uma estrada real de acesso ao inconsciente”, não sendo contudo um espelho fiel do mesmo. Quando dormimos, a censura levada a cabo pelo ego e superego (instâncias do aparelho psíquico) não desaparece, mas encontra-se atenuada. Assim, os desejos, os impulsos e conflitos podem manifestar-se, mas sob a forma simbólica que naturalmente exige uma interpretação. Freud distingue o conteúdo manifesto do sonho – os acontecimentos de que se lembra quem sonha – do conteúdo latente ou simbólico – o seu significado oculto que importa interpretar ou descodificar.
Teorias mais recentes defendem que os sonhos servem para tratar as emoções do dia-a-dia, contribuem para organizar a nossa vida psíquica e também têm funções fisiológicas. Experiências realizadas com animais demostraram que estes ficavam debilitados, após terem sido repetidamente acordados no período REM e assim impedidos de sonhar. Isto porque o sonho activa algumas defesas biológicas ligadas à imunidade, sendo igualmente importante para estimular a memória.
Como interpretar os sonhos?
Existem muitos livros à venda no mercado que se propõem ajudar as pessoas a interpretar os sonhos. Mas, esse tipo de manuais não tem qualquer credibilidade pois os sonhos são pessoais e exigem uma contextualização que esses livros não oferecem. O recurso a especialistas também só deverá ocorrer quando se tratam de pesadelos recorrentes que ameaçam o equilíbrio emocional do indivíduo. Em circunstâncias normais, podemos tentar fazer uma leitura pessoal dos sonhos respondendo a quatro perguntas fundamentais:
- Qual é a imagem-chave do sonho?
- Qual o sentimento ou emoção dominantes?
- Onde é que a acção se desenrolava?
- Que situação, na vida real, é aquela que o sonho lhe faz lembrar?
Com este exercício caminharemos em direcção ao auto-conhecimento que tantas vezes nos escapa. Será possível perceber o que realmente nos afecta, esclarecer sentimentos confusos e, quem sabe, definir o melhor caminho a seguir.
Bons sonhos.
Fernanda Botelho
Profª. de Psicologia
1 comentário:
Parabéns, Fernanda.
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