Ao ver o Memento, a primeira coisa que salta a vista é a estrutura pouco usual da narrativa, fragmentada e sem uma ligação aparente, podemos até pensar que o filme é demasiado confuso e que não vale a pena massacrar o neurónio e vê-lo até ao fim.
Não caiam nesse erro.
A história, que retrata a vida de um doente com amnésia anterógrada (não consegue formar novas memórias), é apresentada fragmentada, em pedaços, com apenas alguns minutos para transmitir a sensação do caos e desorientação que essa patologia deve provocar aos doentes.
O protagonista vive a sua vida através de uma busca de vingança, através do desejo de castigar o assassino da sua mulher, um tal John G.; este é o único objectivo que ele consegue manter e que lhe dá uma certa direcção à vida. E certamente a vida e a demanda de Lenny continuam, processadas pelo hábito e pela rotina, por puro condicionamento, por pura repetição… Para não “spoilar” o resto do filme não vou desenvolver mais a história.
Agora o filme levanta de facto algumas questões verdadeiramente importantes sobre o papel da memória na vida e na personalidade das pessoas:
-O que nos define, o que torna a nossa personalidade única e irrepetível?
-Conseguimos viver sem novas memórias?
-Conseguiremos ser verdadeiramente autónomos, se não nos conseguimos lembrar do que é preciso fazer e do que já fizemos?
Não.
Não.
Não.
Precisamos da memória para podermos assimilar novas experiências, para aprender qualquer coisa, por mais pequena e insignificante que pareça, precisamos de novas experiências para crescermos como pessoas, e precisamos das memórias que fizemos para nos lembrarmos de como vamos reagir às tais novas experiências. Se retirarmos qualquer das memórias, mesmo deixando os outros tipos cirurgicamente intactos, a nossa personalidade não poderá manter-se irredutível.
É possível estar-se vivo mesmo sem cérebro, no entanto, eu pessoalmente não classificaria um estado de pura inconsciência sem retorno, como vida, classificaria como uma espécie de meio-termo, um purgatório entre a vida e a morte. E sem memória realmente não temos bem consciência do que nos rodeia, estaremos possivelmente, se bem que a uma escala inferior, inconscientes? Penso que sim.
A memória é sem dúvida indispensável para qualquer pessoa, para a sua qualidade de vida, para o crescimento, maturação e aprendizagem de qualquer indivíduo, sem ela não podemos ser completos, e sem dúvida que quando a memória falta, falta também sentido…
Mervin Gunda (12º I)
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